Literatura Portuguesa

01/09/2019

A literatura portuguesa abrange oito séculos de produção. Os primeiros registros datam do século XII, quando ocorre a expulsão dos árabes da Península Ibérica e com a formação do Estado Português.

Primeiramente, os relatos foram escritos em "Galego-Português". Isso ocorreu em virtude da integração cultural e linguística existente entre Portugal e Galícia.

Essa região pertencente à Espanha e ainda hoje os laços com o povo português, são ligados por meio da cultura e economia.

A literatura portuguesa acompanha as grandes transformações históricas. São essas as influências que ditam as divisões e subdivisões da produção literária em: Era Medieval, Era Clássica, Era Romântica ou Moderna.

Já as eras são subdivididas em escolas literárias ou estilos de época.

A Era Medieval

A Era Medieval da literatura portuguesa é dividida entre Primeira Época (trovadorismo) e Segunda Época (humanismo).

Ela tem início no início do século XII com a publicação de texto a Canção Ribeirinha, também conhecida como Canção de Guarvaia, de Paio Soares de Taiverós. Essa obra é considerada o mais antiga da literatura portuguesa.

Trovadorismo - Primeira Época

O Trovadorismo ocorre entre 1189, data da publicação da Canção Ribeirinha, até 1434, quando Fernão Lopes é nomeado cronista-mor da Torre do Tombo. Ao decorrer do Trovadorismo, ocorrem manifestações na poesia, na prosa e no teatro.

A poesia trovadoresca é subdividida entre:

  • Poesia Lírica: Cantigas de Amor e Cantigas de Amigo;
  • Poesia Satírica: Cantigas de Escárnio e Cantigas de Maldizer.

Dentro da prosa medieval as manifestações literárias são subdivididas em Novelas de Cavalaria, Hagiografias, Cronicões e Nobiliários. Já no teatro, a subdivisão é denominada de Mistérios, Milagres e Moralidades.

Saiba mais sobre as Cantigas Trovadorescas.


Humanismo - Segunda Época

O Humanismo estende-se de 1434 até 1527, e é considerado um período de transição da cultura medieval para a cultura clássica. Ele começa com a nomeação de Fernão Lopes para cronista-mor da Torre do Tombo, em 1418.

Nesse período, a poesia é classificada como Poesia Palaciana. O autor Fernão Lopes é a principal representante da prosa humanista e, no teatro, Gil Vicente.

Saiba mais sobre a Literatura Medieval.

Era Clássica

A era clássica da literatura portuguesa ocorreu entre os séculos XVI, XVII e XVIII. Assim como na Era Medieval, contou com manifestações na poesia, prosa e teatro. Essa fase é dividida em três períodos:

Classicismo (1527-1580)

Tem como marco inicial a chegada de Sá de Miranda da Itália. Berço do Renascimento, o poeta português trouxe um novo estilo conhecido como "dolce stil nuevo" (Doce estilo novo).

Sem dúvida, Luís de Camões, foi o principal representante do momento com sua poesia épica Os Lusíadas.

Seiscentismo ou Barroco (1580-1756)

O marco inicial do barroco em Portugal é a morte do escritor Luís de Camões em 1580. Esse período durou até 1756 com a chegada de um novo estilo: o Arcadismo.

Sem dúvida Padre Antônio Vieira foi o maior representante do período do qual se destacam seus Sermões. Essas obras foram escritas em estilo conceptista, onde o trabalho com os conceitos era o mais importante.

Setecentismo ou Arcadismo (1756-1825)

Também chamado de Neoclassicismo, o Arcadismo em Portugal teve como marco inicial a fundação da Arcádia Lusitana em 1756 na capital, Lisboa.

Esses locais serviam para a reunião de diversos artistas empenhados em apresentar uma nova estética e se afastar da anterior.

Bocage foi considerado o maior escritor do período e suas obras que merecem destaque são: Morte de D. Ignez de Castro, Elegia, Idílios Marítimos.

Era Moderna

A Era Moderna da literatura portuguesa começa em 1825 e vai até o período atual. Está dividida em Romantismo (1825-1865), Realismo, Naturalismo e Parnasianismo (1865-1890), Simbolismo (1890-1915) e Modernismo (1915 até os dias atuais).

Romantismo (1825-1865)

O romantismo em Portugal têm início com a publicação da obra Camões de Almeida Garret em 1825. Para alguns estudiosos, essa escola literária começa em 1836 com a publicação de A Voz do Profeta, de Alexandre Herculano.

Nesse momento, o país passava por muitas transformações decorrentes da Revolução Francesa e as Guerras Napoleônicas. Fica evidente esse sentimento de incerteza e insatisfação nas obras literárias que foram produzidas no período.

As principais características do romantismo português foram: a idealização, o sofrimento, o saudosismo, o nacionalismo, o subjetivismo e o medievalismo. Destacam-se os escritores: Almeida Garret, Alexandre Herculano, Antônio Feliciano de Castilho, Camilo Castelo Branco e Júlio Dinis.

Os primeiros romances, ditos românticos, pois se iniciaram com o Romantismo, ainda se assemelham às novelas, sendo a distinção entre os gêneros bastante tênue, sutil. Comumente, os primeiros romances eram epistolares, ou seja, em forma de cartas.
A solidificação do gênero romance , enquanto espaço de experimentação e profundidade , será somente possível na segunda metade do século XVIII.
Segundo o Massaud Moisés, a obra que pode ser considerada o primeiro romance foi A história de Tom Jones, um enjeitado , de 1749, de Henry Fielding. Contudo, o primeiro grande representante do gênero foi Stendhal com sua obra prima O vermelho e o negro de 1830. Já o criador do romance moderno, semelhante ao que conhecemos hoje, foi Honoré de Balzac com sua vasta e famosa obra Comédia Humana (1829-1850), um amplo panorama da sociedade burguesa.
Além de Balzac, entre os grandes romancistas românticos , podemos citar o alemão Goethe ( Os sofrimentos do Jovem Werther e Fausto), o francês Victor Hugo (Os miseráveis e Corcunda de Notre-Dame), as inglesas Jane Austen ( Razão e Sensibilidade) e Emily Brönte ( O morro dos ventos uivantes), entre outros.
Em Literatura Brasileira , já são nossos conhecidos Joaquim Manuel de Macedo ( A Moreninha) e o exemplar José de Alencar ( Senhora, Iracema, O guarani,Lucíola).
Em Portugal, destacamos Alexandre Herculano , Camilo Castelo Branco e Júlio Dinis.
Características gerais do Romantismo:
• Subjetivismo- a valorização do "eu" é a principal característica romântica.
• Idealização- uso da fantasia e da imaginação
• Escapismo- fuga da realidade, do cotidiano, do presente.
• Mulher idealizada- a amada é pura e perfeita, assim como o amor é eterno.
• Fusão entre o grotesco e o sublime- a uma nova concepção de beleza. Surge o "belo-feio"
• Sentimentalismo- sentimentos como amor e ódio são extremamente exagerados
• Espiritualismo, religiosidade- valores medievais cristãos são resgatados
• Satanismo- por outro lado, a obras que valorizam o satânico, o mistério das sombras.
• Amor intenso- a paixão vigora, o amor leva o ser humano à felicidade e à loucura
• Medievalismo- a figura do herói medieval é resgatada. Fuga ao passado e lugares distantes.
• Liberdade formal- os românticos são contrários as regras clássicas e suas formas rígidas.

As características específicas do romance romântico, válidas também para as novelas, são:
• O amor como redenção: o herói normalmente possui alguns defeitos. O amor aparece como uma redenção, salvando-o, restituindo-lhe a honra.
• Idealização do herói: o herói romântico é bom , forte e belo, defende os fracos e elimina os vilões.
• Idealização da mulher: como o herói, a heroína romântica é bela, pura um ser angelical, pleno de benevolência.
• Personagens planas: em geral, as personagens românticas não nos surpreendem, sabemos desde o início quem são os bons e quem são os maus da história.
• Impasse amoroso( final feliz ou trágico): Há sempre um impedimento para os amantes: diferentes classes sociais, um antagonista, vilão que disputa a amada do herói.
• Oposição aos valores sociais: os heróis românticos se opõem a valores impostos pela sociedade como o casamento por dote , arranjado.
• Sentimentalismo: as personagens românticas amam e odeiam com extremo exagero.
• Linguagem metafórica: o escritor romântico abusa de metáforas que enaltecem e idealizam pessoas e lugares. 


O Ultrarromantismo em Portugal

Os ultrarromânticos possuíam como características principais o exagero de todas as características românticas, voltados muitas vezes para o pessimismo e para a melancolia. Em Portugal, isso também ocorre, contudo, um dos maiores prosadores românticos, um dos maiores escritores portugueses do século XIX , Camilo Castelo Branco, não se prendeu a uma só vertente, apresentando inclusive humor e ironia em muitas de suas obras. Na Questão Coimbra, posicionou-se a favor dos românticos e de Castilho, contudo, paradoxalmente, escreveu obras de influência realista.

Camilo Castelo Branco (1825-1890)

Nasceu em Lisboa no dia 16 de Março, filho ilegítimo de Manuel Joaquim Botelho e Jacinta Maria. Ficou órfão aos 10 e aos 16 casou-se, abandonando a esposa em seguida. Frequentou a sociedade do Porto , dedicando-se ao jornalismo, e teve uma vida romanticamente agitada, desde vários casos amorosos até a prisão.
Ele se apaixonou perdidamente por Ana Plácido, uma mulher casada. Chegaram a ser presos por adultério, mas foram inocentados. O escândalo favoreceu o escritor com súbita notoriedade logo após a publicação de Amor de perdição, escrito no tempo da prisão. Quando sua amada ficou viúva, puderam se casar. Contudo, nada foi fácil para o escritor, com muitos filhos e pouca verba, escrevia freneticamente para sustentar sua família. Ao ficar cego, impossibilitado de escrever, suicidou-se com um tiro na cabeça em sua casa de São Miguel de Seide.

Estilo camiliano
Escreveu em diversos gêneros, de biografias a peças de teatro, contudo, notabilizou-se por suas novelas, principalmente as passionais, ou seja, cheias de amor e sangue.
Podemos dizer que Camilo Castelo Branco era uma espécie de escritor profissional., pois escrevia para sobreviver e sabia conquistar seu público. Utilizou a técnica folhetinesca e sua produção foi imensa, apresentando desde obras-primas até textos insípidos, criados somente com o intuito de agradar aos leitores burgueses. Ele foi um excelente prosador, sabia contar histórias e prender a atenção dos leitores, criando um diálogo com os mesmos. Além do uso da ironia e do humor, mesmo em novelas passionais, Camilo Castelo Branco utiliza outros recursos estéticos interessantes. Encontramos em suas obras o uso da metalinguagem e reflexões sobre como fazer novelas. Além disso, procurou adequar a linguagem das personagens à suas origens, ou seja, um homem simples como João da Cruz ,em Amor de perdição, fala com simplicidade.
Algumas obras:
• Novelas de mistério ou terror( Mistérios de Lisboa , Livro Negro de Padre Dinis)
• Novelas históricas ( O judeu, O santo da montanha, A filha do regicida);
• Novelas passionais ( Amor de perdição, Carlota Ângela, Amor de salvação, A doida do Candal)
• Novelas satíricas( Coração, cabeça , estômago, A queda dum anjo)
• Novelas de influência realista (Eusébio Macário, A corja, A brasileira de Prazins e As novelas do Minho) 

Amor de perdição

Esse livro é um paradigma para as demais novelas passionais. Foi publicada em folhetins em 1862, quando o autor estava preso, acusado de adultério, como já dissemos. O narrador( neste caso confunde-se com o próprio autor) nos revela que , quando esteve preso, teve acesso ao registro de seu tio Simão Botelho, irmão de seu pai Manuel Botelho, de quem era filho bastardo. Ao saber a história dramática do tio, por cartas também recebidas, resolveu escrever a novela. Atestar a legitimidade da história narrada, dando-lhe verossimilhança, foi um recurso bastante utilizado pelos romancistas românticos. Cartas, documentos encontrados, serviam de "provas" para a veracidade da história, claramente tida como inventada, ficcional.
O enredo é bastante simples e conhecido em nossa modernidade. Seria uma história de Romeu e Julieta à portuguesa. Simão Botelho, típico herói romântico, intenso e destemido, apaixona-se perdidamente por Teresa de Albuquerque, meiga, linda e pura. A família de Simão não aprova o namoro pois os Albuquerque não são bem nascidos , são ricos, mas não possuem "um nome", um antepassado importante. O pai de Teresa também é contra o enlace amoroso, já que o pai de Simão, Domingos Botelho, era juiz e lhe foi contrário em algumas contendas. Tadeu de Albuquerque insiste que a filha se case com seu sobrinho Baltazar Coutinho, um vilão da história. Caso não se case com o primo, Teresa terá que ficar reclusa em um convento. Como complicador , forma-se um triângulo amoroso com a inclusão da personagem Mariana, moça simples, extremamente dedicada a Simão, resignada e consciente da impossibilidade desse amor. Não contaremos o final da história , contudo, o próprio autor nos adianta que o fim de Simão será triste e nos comoverá.



Realismo (1865-1890)

O realismo em Portugal apresenta como marco inicial a "Questão coimbrã". Ela representou uma disputa entre alguns jovens literatos e estudantes de Coimbra (Antero de Quental, Teófilo Braga e Vieira de Castro) e o escritor romântico Antônio Feliciano de Castilho.

Avesso aos ideais românticos, o realismo teve como principal característica a negação dos sentimentos, os quais eram exaltados pelos escritores do romantismo. Para isso, as obras escritas nesse período estiveram apoiadas no cientificismo, no objetivismo e no materialismo.

Destacam-se os escritores Antero de Quental e Eça de Queirós. O primeiro teve sua obra Os Sonetos, como a principal do período. Já Eça de Queirós, revelou sua maestria no romance O Primo Basílio.


Produção literária

O Realismo é de origem francesa, inicialmente nas artes plásticas com as obras realistas de Gustave Courbet que chocaram os românticos. Em 1857, Gustave Flaubert publica Madame Bovary. Dez anos depois, Émile Zola publica Thérèse Raquin que dá origem ao extremismo realista, o Naturalismo, mas sua obra-prima é livro Germinal de 1885.
Em Portugal, o Realismo se inicia com a famosa Questão Coimbrã, que consistia em uma crise acadêmica em que diversos textos ofensivos foram trocados, de um lado os românticos, veteranos e mestres na academia, como o professor Antônio Feliciano de Castilho, de outro os rebeldes estudantes da Sociedade do Raio, fundada por Antero de Quental.
Vale lembrar que o Realismo português foi bastante organizado, repleto de conferências e estudos sobre a estética. Nunca a literatura portuguesa conseguiu alcançar tal feito.
Havia as Conferências do Cassino Lisbonense, repletas de discussões filosóficas. Participaram dessas conferências o poeta, folclorista e futuro presidente de Portugal Teófilo Braga e o famoso romancista Eça de Queirós , do qual trataremos nesta unidade.Características gerais do Realismo

• Assume uma postura mais engajada. Há o compromisso entre a arte e a realidade social.

• Possui um embasamento teórico: determinismo, positivismo, evolucionismo e socialismo.

• Crítica à educação romântica.

• Crítica ao conservadorismo da Igreja.

• Visão objetiva da realidade.

• Representação da vida cotidiana.

• Uso da razão.

Uma boa definição de Realismo, dada pelo grande escritor Eça de Queirós:
"O realismo é a negação da arte pela arte; é a proscrição do convencional, do enfático e do piegas. É a abolição da retórica considerada como arte de promover a comoção usando da inchação do período, da epilepsia da palavra, da congestão dos tropos. É a análise com o fito na verdade absoluta". ( QUEIRÓS, Eça apud MOISÉS, 2008, p. 231)


Realismo e Naturalismo

Há entre os romances realistas e naturalistas muitos pontos de contato. Vale dizer que o Realismo surgiu antes, o Naturalismo depois. Assim, o Naturalismo é uma nova versão, bem semelhante, mas extremamente exagerada. Para o Naturalismo, o homem é um ser natural e por isso é guiado pelos instintos, como outros animais.
O realista mostra a ferida, o naturalista a disseca. As cenas de adultério são mostradas sutilmente pelo realista, como se fechasse as cortinas do quarto dos amantes. O naturalista abre as cortinas e descreve a cena em pormenores. Os aspectos científicos são levados ao extremo, os vícios das personagens são analisados como casos patológicos, doentios.
O Realismo se inicia em 1857, quando Gustave Flaubert publica Madame Bovary. O Naturalismo surge em 1867, quando Émile Zola publica Thérèse Raquin , contudo, muitos consideram que sua obra-prima é o livro Germinal, de 1885.

Naturalismo (1875-1890)

O naturalismo em Portugal teve início com a publicação da obra O Crime do Padre Amaro (1875) de Eça de Queirós. Embora Eça tenha tido grande destaque no movimento do realismo, algumas de suas obras carregam características notadamente naturalistas.

Paralelo ao movimento realista, o naturalismo possui algumas características que se assemelham como a negação ao romântico, o cientificismo, a objetividade e o materialismo.

Por outro lado, suas personagens são marginalizadas e não tem grande foco na burguesia como é o caso do realismo. Nesse momento, as características e os instintos humanos são destacados.

Além de Eça de Queirós, os escritores que mais se destacaram no período foram Abel Botelho, Francisco Teixeira de Queirós e Júlio Lourenço Pinto.


Texto 4- O romance realista e/ou naturalista

Citando o professor Massaud Moisés:

O romance passa a ser no Realismo obra de combate, arma de ação transformadora da sociedade burguesa dos fins do século XIX. Torna-se instrumento de ataque e demolição, por um lado , e de defesa de ideais filosóficos e científicos, por outro. (MOISÉS, 2008, p. 189)

Como podemos observar, os romancistas não se preocupam mais em enaltecer os valores burgueses, ou mesmo idealizar uma realidade como os românticos faziam, mas, ao contrário, criticam tudo que é subjetivo e pretendem descrever a realidade como ela é.
O romance passa a ser um espaço de experimentação das novas teorias científicas, é o que chamamos de Romance de Tese, ou seja, o artista procura aplicar os novos conceitos na construção de suas personagens, como se fossem cobaias em um laboratório.
As características a seguir referem-se ao romance realista, mas também podem ser vistas no naturalista, de forma exagerada:• Linguagem objetiva,culta e direta.
• Descrições detalhadas e adjetivação objetiva com o intuito de captar o real.
• A mulher não é idealizada.
• O amor é subordinado aos interesses sociais.
• O casamento é um contrato de interesses e conveniências (Há vários casos de adultério).
• O herói é fraco, cheio de manias e incertezas.
• A narrativa é lenta.
• As personagens são trabalhadas psicologicamente.


Gustave Flaubert e Madame BovaryFlaubert foi um dos autores mais importantes do Realismo, influenciado pelas teorias científicas, pela Revolução Industrial e pela linha filosófica de Augusto Comte, o positivismo. Ele levou à perfeição o ideal do romance realista de harmonizar a arte e a realidade. Sua obra se caracteriza pelo cuidado minucioso com a linguagem e pela estrutura do enredo. Influenciou toda uma geração de escritores, inclusive Eça de Queirós.
Seu romance de estreia foi Madame Bovary, um retrato crítico da hipocrisia da sociedade burguesa e romântica. A obra foi resultado de cinco anos de um trabalho minucioso. Em linhas gerais, o enredo gira em torno da história de Emma, uma moça sonhadora que se casa com um médico provinciano, Charles Bovary. Sua vida é sem graça, ociosa, muito diferente de seus ideais. O marido é um simplório. Emma sente-se muito infeliz, repugna seu marido e para fugir de sua vida medíocre entrega-se ao adultério. Materialista e inconsequente, gasta o que não possui e envolve-se em dívidas absurdas.Veja a seguir um trecho do texto do professor Antônio Apolinário Lourenço a respeito dos 150 anos da publicação de Madame Bovary e sua influência na obra de Eça de Queirós:
" Concretizaram-se, no ano há pouco terminado, cento e cinquenta anos sobre a publicação em livro de Madame Bovary, o genial romance de Flaubert. Estranhamente, a efeméride passou entre nós praticamente despercebida, apesar da enorme influência que essa obra e o seu autor exerceram sobre a literatura portuguesa, a partir do final do século XIX.
Para Eça de Queirós, em particular, Gustave Flaubert foi permanentemente um mestre e um modelo. Logo em 1871, quando o futuro autor d'Os Maias apresentou no Casino Lisbonense a sua conferência sobre o realismo na arte, com um discurso demasiado colado ao do livro de Proudhon intitulado Du Principe de l'art et de sa destination sociale, os parágrafos mais originais foram justamente aqueles que dedicou a Madame Bovary. A conferência, como se sabe, é apenas conhecida pelos relatos da imprensa da época (neste caso, o Diário Popular de 15 06 1871):

Para exemplificar a doutrina do realismo, citou o Sr. Eça de Queirós Madame Bovary, o célebre livro de Gustave Flaubert, no qual o adultério tantas vezes cantado pelos românticos como um infortúnio poético que comove perniciosamente a susceptibilidade das almas cândidas, nos aparece pela primeira vez debaixo da sua forma anatómica, nu, retalhado e descosido fibra a fibra por um escalpelo implacável. O efeito é surpreendente e terrível.


Constatamos, assim, que foi a leitura de Madame Bovary que fez Eça compreender a superioridade civilizacional e ética do Realismo sobre o Romantismo. Outros autores, como os irmãos Goncourt e Émile Zola, em França, sentiram, perante Madame Bovary, um deslumbramento idêntico ao de Eça. E enquanto Edmond et Jules de Goncourt criavam, com Germinie Lacerteux, uma espécie de Bovary das classes baixas, Zola procuraria, igualmente a partir do romance de Flaubert, desenhar o modelo técnico-narrativo do romance naturalista.


Fonte: https://www.unip.br/presencial/central/Interna.aspx  

Parnasianismo (1870-1890)

O parnasianismo em Portugal também aconteceu paralelo aos movimentos realista e naturalista. Teve como precursor o poeta João Penha. Baseado no lema "arte pela arte", os escritores desse momento estiveram preocupados mais com a perfeição formal que o conteúdo propriamente dito.

Assim, a preocupação com a estética foi a principal característica dessas obras sendo o soneto um tipo de poema de forma fixa que prevaleceu. Temos como temas a realidade cotidiana e também, os clássicos. Os principais escritores foram: João Penha, Cesário Verde, António Feijó e Gonçalves Crespo.

Simbolismo (1890-1915)

O simbolismo em Portugal teve como marco inicial a publicação da obra Oaristos (1890) de Eugênio de Castro. Oposto aos movimentos anteriores, ele rejeita o cientificismo, o materialismo e o racionalismo. Sendo assim, suas principais características são a musicalidade, a transcendência e o subjetivismo.

Os escritores desse momento se apoiam nas manifestações metafísicas e espirituais para escreverem suas obras. Além de Eugênio de Castro, destaca-se a produção poética de António Nobre e Camilo Pessanha. Esse movimento termina em 1915 com a advento do movimento modernista.

Modernismo (1915 até os dias atuais)

O modernismo em Portugal começa em 1915 com a publicação da revista Orpheu. Esse período esteve dividido em três fases:

  • Geração de Orpheu (1915-1927) que começa com a publicação da revista Orpheu. Teve como principais representantes: Mário de Sá-Carneiro, Almada Negreiros, Luís de Montalvor e o brasileiro Ronald de Carvalho.
  • Geração de Presença (1927-1940) que começa com a publicação da revista Presença. Teve como principais representantes: Branquinho da Fonseca, João Gaspar Simões e José Régio.
  • Neorrealismo (1940) que começa com a publicação de Gaibéus, de Alves Redol. Além dele, outros escritores que se destacaram foram: Ferreira de Castro e Soeiro Pereira Gomes.  
  • O Neorrealismo foi uma corrente literária que se iniciou em Portugal no final dos anos 30 e perdurou até os anos 60. Havia, na época, um desgaste natural do movimento presencista, 2ª fase do modernismo, que valorizava "a arte pela arte". Os escritores começaram a repudiar esse tipo de literatura, principalmente por tomarem contato com literaturas mais engajadas, de cunho sócio-realista, como o neorrealismo italiano, a ficção norte-americana, John Steinbeck e Ernest Hemingway, e o romance social brasileiro dos anos 30, com destaque para as obras de Graciliano Ramos, Jorge Amado, José Lins do Rego e Raquel de Queirós
  • Além das influências literárias, os escritores dessa época sentiram-se motivados a escrever obras de cunho social devido, por um lado, ao clima de repressão política (Ditadura salazarista) em que viviam e, por outro, à crescente divulgação dos ideais marxistas (comunismo e socialismo).
    Os autores dessa época possuem estilos diferentes e não há muitas características em comum. Podemos dizer que as principais características das obras neorrealistas são:

    • Denúncia das explorações vividas pelos homens.
    • Denúncia da alienação econômica, política e cultural.
    • Visão objetiva da realidade, mas com lirismo.
    • Protagonistas: pessoas humildes, injustiçadas e marginais.
    • Tendência à estruturação cinematográfica.
    • Temas mais frequentes: problemas sócio-econômicos e a luta de classes.

Texto 4- Alguns escritores neorrealistas e suas obrasa) Alves Redol ( 1911-1969) Antônio Alves Redol teve uma origem humilde, seu pai foi um comerciante modesto.Trabalhou em Angola por três anos.Quando regressou a Portugal em 1936, juntou-se ao movimento que se opunha ao Estado Novo, tornando-se militante do Partido Comunista. Dedica-se à ficção tornando-se um dos principais romancistas de tendência neorrealista.Ao final de 1939, Alves Redol publica Gaibéus, um romance regionalista que retrata a vida simples dos camponeses de Ribatejo, os gaibéus. Para dar maior realidade a obra, o autor fez uma completa pesquisa de campo, chegando a morar na região, trabalhando com os camponeses nas plantações de arroz.
Segundo palavras do próprio Alves Redol, na epígrafe de Gaibéus, "este romance não pretende ficar na literatura como obra de arte. Quer ser, antes de tudo, um documentário humano fixado no Ribatejo. Depois disso, será o que os outros entenderem".

Veja um trecho de Gaibéus, do capítulo " Mensagem da nuvem negra":


"Vencidos pelo torpor, os braços não param. Lançam as foices no eito, juntando os pés de arroz na mão esquerda, e o hábito arrasta-os em gestos quase automáticos, mais um passo e outro, a caminho da maracha que fecha o extremo de cada canteiro. Caminham sempre no mesmo balouçar de ombros; as pegadas do seu esforço ficam marcadas na resteva lodosa.
Talvez muitos deles pensem que o arroz deitado nas gavelas repousa primeiro do que os seus corpos. Se pudessem deter-se também, por instantes, e descansarem depois a cabeça nos montes de espigas que deixam atrás de si, a ceifa poderia animar.
Mas o bafo que vem da seara queima mais em cada minuto e as cabeças dos alugados pesam já tanto como o cabo das foices nos braços esgotados. Estão atafulhadas de amarelo, de pensamentos e de grãos de fogo que a canícula doente lhes insuflou no sangue.
Ninguém entoa cantigas para animar, embora os capatazes tenham incitado as raparigas cantaroleiras para o fazer. Nos ranchos não há agora que saiba cantar.
Como podem as cachopas entrar em cantos ao desafio, se os peitos parecem fendidos pela fadiga e o ar que respiram se tornou lava do vulcão da planície?!..." REDOL, 1965 apud MOISÉS, 1981, p448)
Vocabulário:
Ceifar: colher cereais
Maracha: pequeno muro
Resteva: lugar cheio de lodo
Gavelas: feixes de espigas ceifadas, cortadas.
Atufalhadas: cheias
Cantaroleiras: que cantam
Cachopas: moçasb) Manuel da Fonseca (1911-1993)

Antes de colaborar em Novo Cancioneiro, com Planície, coleção onde se afirmariam algumas coordenadas da estética poética Neorrealista numa primeira fase, editou, em 1940, Rosa dos Ventos, obra pioneira do neorrealismo poético português. Sua prosa e poesia se aproximam e estão impregnadas de um caráter autobiográfico, alimentado por recordações da convivência com o homem alentejano (Alentejo seria como o Nordeste brasileiro). Sua obra ultrapassa o regionalismo, pois fala de problemas humanos que atingem a todos nós.

Seara de VentoÉ uma obra prima de Manuel da Fonseca, o romance Seara de Vento passa-se no Alentejo, região rural, e se baseia em fatos reais. Foi publicada em 1958, mas foi censurada. O livro retrata as injustiças sofridas pela família de Antônio Valmurado, o Palma. Injustamente condenado à prisão, esse simples camponês, ao ver sua família na miséria, parte para criminalidade, para o contrabando. As pressões são tantas que a revolta o domina, chegando ao ápice quando sua mulher, Júlia, se suicida. O desejo de vingança leva-o a se tornar um assassino. Palma representa o homem simples, explorado, que aos poucos vai tomando consciência de sua situação e a única forma que encontra para se defender é a violência. Assim, essa obra demonstra não somente o processo de exploração sofrido, mas também o processo de conscientização de um homem, inicialmente alienado.
O romance segue uma tendência cinematográfica, as personagens são construídas através da dramaticidade, de suas ações. Ao lermos, parece que vemos um filme, devido à composição das cenas. O tom de denúncia é constante e a linguagem é extremamente simbólica. O vento é antropomorfizado, torna-se presente em vários momentos, como uma personagem. Representa o poder, em todos seus aspectos positivos e negativos. É aquele que destrói, mas também dá forças para lutar.

É uma bela obra que vale à pena ser lida. Veja seu início:"Rumorosa, às sacudidelas bruscas, a ventania corre livremente. Em tropel desabalado arremete contra a empena, trespassa a telha-vã. Gemendo, arrasta-se pelo interior escuro do casebre. E demora, insiste, num ganido assobiado.
Seca e breve, como uma chicotada, a praga rompe dos lábios azedos da velha:
_ Raios partam esse vento!
Por instantes, as duas mulheres entreolham-se. A velha de punho no ar, a boca ainda aberta pelo grito. Júlia encolhida e receosa, como se acabasse de ouvir uma blasfêmia.
Estão ambas junto da lareira apagada, sentadas nos mochos, sumidas nos vestidos pretos . Em redor, sombras espessas diluem nas paredes e os recantos numa só mancha circular. Apenas as cantarias da lareira, batidas pela luz que vem da porta, se salientam,aprumadas.
Abafado pelo farfalhar da ventania, o gemido prolonga-se monótono. Sem aguardar que morra de vez, irritada com a interrupção, a velha Amanda Carrusca retoma a conversa. A face escaveirada torna-se-lhe imperativa.FONSECA, 1984, P.9)Vocabulário:
Empena- peça de madeira do telhado
Mocho- banco
Cantaria- pedra


Modernismo
(Presencismo e Neorrealismo)

O modernismo português possui 3 fases: Orfismo , Presencismo e Neorrealismo. Alguns teóricos consideram que o Neorrealismo já seria pós-modernismo. O Presencismo não teve escritores de grande relevância, contudo se destacaram por divulgar a obra de Fernando Pessoa.
A "arte pela arte" se preocupa mais com os aspectos estéticos da literatura. Já a literatura engajada se preocupa também com as questões sociais.

Texto 1 - PRESENCISMO (1927-1940)A segunda fase do Modernismo em Portugal é denominada de Presencismo, surgindo em 1927 a partir do lançamento da Revista Presença. Colaboram com a revista José Régio, João Gaspar Simões, Branquinho da Fonseca, seus fundadores, e Adolfo Casais Monteiro, Miguel Torga, Antônio Botto, Irene Lisboa, entre outros.
Os presencistas se destacaram principalmente por divulgar e cultuar a obra de Fernando Pessoa , Mário de Sá Carneiro e Almada Negreiros, os quais consideravam seus mestres.Irene Lisboa (1892-1958) foi professora primária e estreou na literatura em 1926 com o livro Contarelos. Além de participar com frequência da revista Seara Nova, com seus poemas, publicou prosa ficcional e obras de Pedagogia.
Usou alguns pseudônimos como João Falco e Manuel Soares. Seu estilo é marcado pela oralidade e naturalidade, assim como um tom intimista e muitas vezes autobiográfico.

Miguel Torga ( 1907-1995), pseudônimo do médico Adolfo Correia da Rocha, pertenceu ao grupo da Presença até 1930, quando lançou com Branquinho da Fonseca a revista Sinal.Tornou-se famoso por seus contos que se passam na região de Trás-dos-montes, no interior de Portugal, a partir de uma visão humanista e intimista.

Questão 1: A escritora Irene Lisboa ficou conhecida por suas publicações nas revistas Presença e Seara Nova. Leia o trecho a seguir e identifique as características que marcaram o estilo dessa escritora:"Sofri muito tempo porque o meu mundo se reduzia ou se dilatava. Sofria de aperto. E hoje, mais do que nunca , sofro de irremediável solidão"


Origens da Literatura Brasileira

As origens da literatura brasileira estão intimamente relacionadas à estética literária portuguesa. As primeiras manifestações da literatura brasileira ocorreram durante o Período Colonial, no século XVI. Diferente da literatura portuguesa, ela está divida em duas eras: era colonial e era nacional.


Fontes:


https://www.todamateria.com.br/origens-da-literatura-portuguesa/


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