Semântica Pragmática
Estilística
A Estilística é a arte do estilo, da elegância, por isso os recursos estilísticos aparecem com destaque, uma vez que busca maior expressividade.
Estilística, segundo o dicionário Houaiss, é a arte de escrever de forma apurada, elegante. Para outros estudiosos, é a disciplina que estuda os recursos expressivos que individualizam os estilos. Podendo, ainda, ser definida como uma conexão histórica entre a Poética e a Retórica.
Sinteticamente, a Poética apresenta-se nos recursos estilísticos, uma vez que estes não surgem aleatoriamente, mas são escolhidos, ainda que de forma inconsciente, pelo emissor, de acordo com sua intenção. Quer emocionar? Quer persuadir? Quer confundir? Para cada objetivo, há um recurso. Por isso, há figuras cuja base é a analogia (comparação, metáfora, catacrese, alegoria etc.), há outras que é a substituição de um termo por outro, desde que entre eles haja uma relação de sentido (metonímia, antonomásia etc.); se o objetivo é apresentar contradição de ideias ou de palavras: antítese, paradoxo, ironia etc., no entanto, se a necessidade é suavizar ou exagerar: eufemismo, hipérbole.
Às vezes, as palavras ou estruturas são repetidas propositalmente (anáfora, pleonasmo, paralelismo), há momentos em que a sonoridade será relevante (assonância, aliteração, onomatopeia) ou será importante inverter (hipérbato, anacoluto, etc.). Geralmente, menos palavras indica mais expressividade na mensagem (elipse, zeugma, silepse, alusão, etc.).
Estilística do Som
Aliteração e Assonância
Aliteração é a repetição insistente dos mesmos sons consonantais, podendo ser eles iniciais, ou integrantes da sílaba tônica, ou distribuídos mais irregularmente em vocábulos próximos.Há quem inclua na aliteração a repetição de vogais na sílaba inicial de duas ou mais palavras.A repetição vocálica em sílabas tônicas é a assonância; mas a mesma vogal pode aparecer não acentuada, prolongando a insistência.
"Nem soneto nem sonata vou curtir um som dissonante dos sonidos som ressonante de sibildos..." (trecho extraído de Som. Poesia e prosa. 5a ed.ANDRADE, Carlos Drummond de.)
Nota-se, ainda, no trecho acima a existência e um outro recurso estilístico, a rima.A rima é a coincidência de sons, geralmente finais de palavras (alguns falam também em rima aliterante, inicial), que se dá na poesia, em conformidade a um esquema mais ou menos regular.É o homeoleuto empregado com recurso poético, desempenhando várias funções:
função hedonística de agradar o ouvido pela repetição de sons em determinados intervalos;
função decorativa, sendo um luxo de expressão, um requinte de elaboração;
função expressiva de realçar ideias contidas nas palavras em que ocorre;
função estrutural de relacionar as palavras que apresentam, bem como de contribuir para a unidade do texto e para a facilidade de sua memorização.
Anonimação
A Anonimação consiste no emprego de palavras derivadas do mesmo radical - em uma mesma frase ou em frases mais ou menos próximas.Muitas vezes a anonimação é um tipo de pleonasmo, como em:
"Pois aqui vai uma evidente evidência..."
(FERNANDES, Millôr.Apotegmas do vil metal)
Demais exemplos:
"...seria maravilhoso que nós tivéssemos uma língua capaz de expressar nossas idéias tão maravilhosamente quanto o inglês..."
(RIBEIRO, João Ubaldo. Escrevendo muderno)
"Acho também maravilhoso achar..."
(RIBEIRO, João Ubaldo. Escrevendo muderno)
Rima e Homeoteleuto
Consistem na identidade de som na terminação de duas ou mais palavras; chama-se rima quando ocorre na poesia e homeoteleuto quando ocorre na prosa. O homeoteleuto é muito comum nos ditados populares.
- Nós dois... e, entre nós dois, implacável e forte,
- A arredar-me de ti, cada vez mais, a morte...
- Mais vale quem Deus ajuda, do que quem cedo madruga
Onomatopéia
Consiste na imitação dos sons da natureza.
- Cocoró-corococó, cocoró-corococó
- O galo tem saudade da galinha carijó
- A menina não fazia outra coisa senão chupar jabuticabas...Escolhia as mais bonitas, punhas entre os dentes e tloque. E depois do tloque, uma engolidinha do caldo e plufe! caroço fora. E tloque, tloque, plufe, tloque, plufe, lá passava o dia inteirona árvore. (Monteiro Lobato)
Estilística Morfológica
As figuras de linguagem servem para deixar o texto mais interessante, mais divertido, comovente, enfim, mais expressivo. Em geral, esse recurso é amplamente utilizado em textos literários, entretanto, é possível que apareça também em textos não literários.
Dependendo do que se pretende evidenciar, as figuras de linguagem são escolhidas. Hoje, enfatizaremos duas figuras que costumam gerar polêmica em virtude de sua natureza, a antítese e o paradoxo.
A antítese consiste na utilização de termos, palavras ou orações que se opõem quanto ao sentido. Veja alguns exemplos:
O amor e o ódio caminham lado a lado.
A verdade e a mentira fazem parte do dia a dia.
Perceba que no mesmo contexto foram utilizadas palavras que possuem sentidos opostos:
AMOR X ÓDIO
VERDADE X MENTIRA
O paradoxo também se fundamenta na oposição, só que esta ocorre entre o mesmo referente, por isso é mais profundo, pois permeia o âmbito das ideias, não simplesmente das palavras ou orações, como na antítese. Veja o exemplo:
Os mesmos braços que serviram de abrigo hoje transmitem solidão.
O paradoxo, no exemplo, está sendo representado pela oposição entre ideias: Como é possível o mesmo braço abrigar e trazer solidão?
Os exemplos e a explicação objetivaram esclarecer que tanto a antítese quanto o paradoxo são figuras pautadas na oposição. Entretanto, o que as diferencia é exatamente o seu campo de atuação. A antítese opõe palavras que já são de natureza opostas, enquanto o paradoxo opõe ideias opostas entre si, como visto no exemplo acima.
A escola literária que mais utilizou essas figuras foi o Barroco em virtude da conturbação de sentimentos, ideias e desejos tão comuns à época.
Hipérbole
Esta figura de linguagem consiste no emprego de palavras que expressam uma ideia de exagero de forma intencional. Exemplo:
Ela chorou rios de lágrimas.
Chorar rios remete a um choro contínuo, exagerado e o termo rios vem para enfatizar a ideia de que foi um choro intenso.
Personificação (ou prosopopeia)
A personificação, também chamada prosopopeia, consiste na atribuição de características humanas, como sentimentos, linguagem humana e ações do homem, a coisas não-humanas. Exemplo:
Congresso Internacional do Medo
Provisoriamente não cantaremos o amor,
que se refugiou mais abaixo dos subterrâneos.
Cantaremos o medo, que esteriliza os abraços,
não cantaremos o ódio, porque esse não existe,
existe apenas o medo, nosso pai e nosso companheiro.Carlos Drummond de Andrade
Neste exemplo, o medo, uma sensação, é transformado em pai e companheiro, algo que só é atribuído a um ser humano.
Metonímia
Metonímia é a figura de linguagem que possibilita troca de um termo por outro de mesma similaridade. Para conceituá-la com maior clareza podemos dizer que é definida como a substituição de uma palavra por outra, quando há relação de contiguidade, ou seja, proximidade de sentido entre elas. É a substituição de palavras que guardam uma relação de sentido entre si.
Exemplos:
A viagem à Lua significou um grande avanço para o "homem". (Neste caso a palavra homem foi empregada no lugar de "humanidade". A parte foi citada para substituir ou representar o todo.)
Tipos de Metonímia
Esta figura de palavra acontece de diversas formas. Observe os casos em que ocorre e veja alguns exemplos:
Quando troca-se o autor pela obra.
Exemplos:
- Ela adora ''ler Jorge Amado''
- Você precisa ''ler Shakespeare''
Quando o continente é substituído pelo conteúdo.
Exemplos:
- Os meninos comeram dois "pratos" no jantar.
- Tomamos 3 "garrafas" de cerveja.
- Comi 1 "lata" de atum.
Todos sabem que não é possível ingerirmos "pratos", "garrafas" e "latas". O que aconteceu foi que nos alimentamos do conteúdo destes recipientes. O continente que é a embalagem foi trocado pelo produto (conteúdo).
Se trocarmos o inventor por seu invento.
- Ele chegou em um "Ford".
- "Thomas Edison" iluminou o mundo.
- "Graham Bell" eliminou as distâncias.
Nestas frases acima notamos que o nome do inventor substitui o invento. "Ford" está no lugar de carro. Henry Ford revolucionou a produção de carros e fundou a Ford Motor Company.
Thomas Edison inventou a luz elétrica. Quem ilumina é a lâmpada elétrica descoberta por ele.
Graham Bell é o inventor do telefone, que acaba com o problema da distância entre as pessoas.
Metáfora
Como sua própria etimologia já indica, a metáfora é a figura de linguagem que transporta a palavra (ou expressão) do seu sentido literal para o sentido figurado. Trata-se de uma comparação que é expressa sem os termos que caracterizam uma comparação. Na metáfora, utiliza-se uma palavra com a intenção de que um sentido implícito nela se destaque e conduza a interpretação do que está sendo dito.
Funciona assim: a comparação "o motorista é lento como uma lesma" torna-se uma metáfora se retirarmos o termo comparativo "lento como". A frase fica "o motorista é uma lesma". A palavra "lesma", que no sentido literal designa o molusco, empresta à frase o sentido figurado de lentidão. Sabemos que não é uma lesma que está ao volante, é uma pessoa, mas ela dirige tão devagar quanto uma lesma se move, e isso permite a criação da metáfora.
Ex:
- Esse problema é só a ponta do iceberg.
Esse problema é só a ponta do iceberg. Não existe iceberg algum. Na realidade, o que essa frase quer dizer é que o problema em questão é muito pequeno se comparado aos outros problemas realmente grandes que não estão sendo vistos ou discutidos no momento. É como um iceberg, que sempre tem a maior parte do seu volume submerso, deixando para fora da água um pedaço mínimo.
- Esse programa de TV é um ralo de tempo.
Esse programa de TV está sendo comparado a um ralo por onde o tempo escoa. Ou seja, o tempo passa sem que a pessoa que assiste a ele se dê conta disso, passa rápido como se fosse água indo embora por um ralo.
Semântica da Enunciação
Semântica da enunciação Por Mikhail Bakhtin
De maneira geral, os enunciados podem ser considerados como sendo acontecimentos discursivos, isto é, são as unidades de comunicação/interação entre os sujeitos.
Para que posamos refletir a respeito do enunciado, é preciso, primeiramente, discutirmos a respeito da Linguística da Enunciação, área da filosofia da linguagem que trata do estudo dos enunciados, dos discursos e suas condições de produção. Essa área de estudos da linguagem ganhou destaque com a publicação da obra Marxismo e Filosofia da Linguagem(1929), quando Mikhail Bakhtin lançou as bases de um novo arcabouço teórico-metodológico para análise dos fenômenos de linguagem, cujo objeto é a enunciação, isto é, a interação verbal.
O que diz Bakhtin sobre o Enunciado?
Em seus trabalhos, Bakhtin suscita a relevância de se considerar o trabalho com a linguagem a partir das condições reais de uso, e não a partir da classificação e da análise de categorias fixas e classificatórias das palavras e do funcionamento das línguas. Isso porque, para o filósofo russo, todo enunciado tem caráter fundamentalmente dialógico, ou seja, os enunciados geram efeitos de sentido que só podem ser analisados no contexto de enunciação e estão sempre relacionados a outros enunciados anteriores e àqueles que ainda estão por vir.
Para que possamos compreender o que postula Bakhtin, leia o seguinte enunciado:
Adorei a manga.
Para que possamos compreender os efeitos de sentido produzidos por esse enunciado, é preciso considerarmos as suas condições de produção. Isso significa que, para que possamos compreender o sentido desse enunciado, não basta analisá-lo morfológica ou sintaticamente, mas, sim, em quais condições ele foi produzido. Sem a análise das condições de produção do enunciado, não podemos saber se o substantivo 'manga' refere-se a uma fruta ou a uma parte de uma blusa. Essas condições de produção seriam, por exemplo, os fatores externos que compõem os enunciados: se o sujeito fala apontando ou segurando a fruta, se aponta para a blusa do interlocutor, se está na feira comprando frutas, se está em uma loja olhando roupas etc.
Com relação ao caráter fundamentalmente dialógico do enunciado, conforme aponta Bakhtin, podemos dizer que esse enunciado não foi proferido pela primeira vez pelo enunciador. Foi preciso que outros enunciados tivessem surgido anteriormente para que tanto o enunciador quanto seu interlocutor compreendessem o significado das palavras "adorei a manga" (o que é adorar, o que é uma manga).
Da mesma forma que outros enunciados anteriores são necessários para que possamos compreender os efeitos de sentido, todo enunciado também está relacionado com outros que ainda estão por vir, já que os enunciados requerem uma resposta, uma atitude responsiva ativa de seu interlocutor durante a interação entre os sujeitos.
É no enunciado que se encontram as mais variadas formas de expressividade linguística, estando essas formas de expressão em estado de incompletude ou inacabamento, prontas para responder aos enunciados já proferidos ou àqueles que ainda serão realizados, isto é, estão em função das formas das enunciações, realizadas nos momentos de interação.
Para analisarmos um enunciado, é preciso observá-lo a partir de sua relação dialógica, ou seja, como cada enunciado é um elo na corrente de outros enunciados. Essa corrente só pode ser vista na sua atuação e materialização linguística, a exemplo dos textos verbais, orais ou escritos. Isso significa que encontramos nos textos (verbais ou não) um exemplo de enunciado concreto. O enunciado e o texto são compreendidos como sendo um só fenômeno concreto, como unidades de intercâmbio verbal.
Língua e enunciado
Para Bakhtin, os sujeitos colocam-se no mundo na e pelas linguagens, verbais e/ou não, e concebem a língua como sendo um fenômeno social que se manifesta na interação verbal. É justamente por esse motivo que ele considera necessário observarmos, além da estrutura dos enunciados, os aspectos extralinguísticos que os constituem, ou seja, as condições de produção. Os referidos aspectos são indispensáveis para a produção de sentidos, a qual está sintonizada à realidade do evento interacional. Assim, a concretização da palavra ocorre no fluxo da interação verbal, sendo (re)significada a partir do contexto no qual emerge, no momento de enunciação.
Oração e palavra
Bakhtin, em sua obra Marxismo e Filosofia da Linguagem (1929), procurou delimitar as fronteiras que distinguem o enunciado dos termos oração e palavra. A oração é considerada como uma unidade da língua de construção e análise passivas, pois, enquanto unidade, não relativiza o outro (o interlocutor do discurso) e a especificidade do contexto. A palavra é definida como fenômeno ou signo ideológico por excelência, produto de trocas sociais, em um dado contexto, que determina as condições de vida de uma dada comunidade linguística (religião, político-partidária, instituições de trabalho etc.).
Teoria da Argumentação na Língua (ANL), desenvolvida por Oswald Ducrot.
A hipótese base de Ducrot consiste em que a argumentação é o fator essencial para a apreensão do sentido do enunciado, sendo que esse sentido está inscrito na língua. Para ele, a linguagem coloca a subjetividade do eu na interpretação, ou seja, o locutor expressa seu ponto de vista no discurso, por isso não é mais possível aceitar o caráter objetivo da linguagem. Dessa forma, a argumentação é uma subjetividade inevitável e das relações subjetivas e intersubjetivas depreende-se uma concepção enunciativa de linguagem, uma vez que se considera o eu-locutor/tu-alocutário no discurso.
No início do pensamento da ANL, Ducrot considera que a concepção enunciativa do sentido permite pensar na hipótese que o dito denuncia o dizer, ou seja, pode-se perceber que dois enunciados estão ligados semanticamente um ao outro pela imagem que a enunciação dá dela mesma. Ducrot (1980) afirma que há um princípio geral que ultrapassa o quadro linguístico e que comanda o discurso diferenciando-o do raciocínio lógico: o pensamento do outro é constitutivo do meu e não é possível separá-los radicalmente.
Vamos tomar um enunciado dos mais singelos e corriqueiros para abordar o conceito de acontecimentos relacionado à questão da "sucessão dos fenômenos", no sentido de explorar mais detidamente a relação entre uma anterioridade e uma posterioridade. Trata-se do enunciado "Pedro quebrou a porta". Na abordagem adotada por Ducrot, o estudo da significação afasta-se de uma visão referencialista ao acolher os fatos da enunciação como pertinentes para a análise semântica. Sendo assim, o enunciado em pauta adquire um lugar na história, isto é, torna-se um acontecimento, tendo em vista diversas possibilidades, tais como:
a) Situações de pressa perturbam Pedro.
b) as entradas desta residência estão frágeis.
Dessa maneira, o enunciado nasce ao se posicionar frente a um estado de coisas, que se configura como a anterioridade que o sustenta. A perturbação de Pedro pela situação de pressa e a fragilidade das entradas da residência são representações de dois "estados de coisa" concebidos como anterioridades possíveis para o enunciado em pauta.
Por outro lado, ainda na perspectiva da "sucessão dos fenômenos", o enunciado em pauta, tendo em vista o seu posicionamento frente ao estado de coisas anterior, produz condições para uma intervenção nesse quadro, na medida em que se apresenta como passível de uma percepção posterior, como consequência desse posicionamento. Dessa maneira, a título ilustrativo, podemos vislumbrar, como perspectivas de conclusões passíveis de serem enunciadas a partir daquele enunciado:
a) Pedro se irrita facilmente.
b) A segurança nesta residência está deficiente.
Essas possibilidades de sequenciação são amostras do funcionamento do enunciado "Pedro quebrou a janela", tendo em vista perspectivas do seu acontecimento, na relação com uma posterioridade que ele aponta. Isso é concebido na sua constitutividade enunciativa, e não numa mera perspectiva dialógica.
A Polifonia
O prefixo: Poli exprime a noção de uma grande quantidade = muitos.
O radical + mais sufixo fonia significa vozes.
Muitas vozes.
É a presença de diversas vozes que conversam entre si num mesmo contexto, para produzir sentido.
- O discurso (fala ou escrita) nunca é neutro, ele é como um espelho que reflete para:
- Quem escreve ou quem fala: locutor/enunciador;
- O pensamento de quem fala ou escreve: as crenças religiosas, as concepções políticas, sociais, para os nossos gostos, enfim para a nossa visão de mundo;
Nunca fazemos um discurso original, sempre reproduzimos falas que ouvimos ao redor de nós. Claro que damos nossas características ao texto, mas muitas vezes reproduzimos discursos que ouvimos na nossa vida sem sabermos.
EX: Mulher só serve para pilotar fogão
Essa frase é um discurso machista que ouvimos na sociedade. Quando falamos isso, mostramos que estamos reproduzindo um discurso que ouvimos, que é um discurso clichê, e também mostramos que acreditamos nisso. Por que a fala sempre mostra as nossas crenças, nossas concepções políticas e nossos gostos.
O discurso também reflete as vozes dos personagens que são citados dentro dele.
Além de somente reproduzirmos somente aquilo que a pessoa está falando, também estamos reproduzindo a voz do personagem que está sendo citado no discurso, ou seja, também estamos reproduzindo as ideologias do personagem que está sendo citado, as convicções de mundo dele, as convicções políticas e econômicas que ele tem.
A fala ou escrita é como se fosse um espelho, que reproduz vozes do locutor, de quem escreve ou quem fala, dos personagens que fazem parte do nosso discurso e ela também reflete para vozes sociais. Ou seja, toda vez que falamos ou escrevemos alguma coisa, estamos reproduzindo vozes de grupos sociais que nós convivemos, como exemplo a igreja ou a escola. Muitas vezes acabamos reproduzindo a fala dos professores, ou de diretores, ou de pastores, padres e etc. Pessoas que acreditamos fazerem parte da nossa formação, que são significativas para a nossa vida.
A Polifonia é como se fosse uma orquestra, e dentro dessa orquestra tem vários instrumentos tocando ao mesmo tempo. Esses instrumentos são as vozes que a gente reproduz ou que a gente ouve e coloca no nosso discurso.
Temos que ser como um maestro, não podemos somente reproduzir as falas, temos que aprender a reger o que queremos que entre no discurso ou não. Temos que aprender a selecionar.
O discurso, apesar de moldarmos como queremos, ele nunca será original.
Semântica da enunciação Por Benveniste
Benveniste define a enunciação como ato individual de utilização da língua pelo falante, ao produzir um enunciado num dado contexto comunicativo.
Como eu passo da língua para a fala? Por meio da enunciação.
Enunciação: ato de dizer
Enunciado: o dito
Quando pensamos "como é possível uma pessoa falar em Libras, ou inglês, francês, alemão etc?'"
Para tanto, é necessário que ela tenha um conhecimento internalizado dessa língua para que seja possível então enunciar.
Teoria da Enunciação
Benveniste, em primeiro lugar afirmou que enunciação é a instância de mediação entre a língua e a fala.
Instância: é o conjunto de categorias que cria um determinado domínio.
Categorias: uma noção que vai servir para agrupar uma classe de elementos da realidade.
Elementos da realidade: classes, características comuns: características linguísticas: substantivos, pronomes, numerais etc.
Pensando nesse conjunto de categorias linguísticas, que vão significar a enunciação que ocorre entre a língua e a fala.
Nesse processo, eu e tu se constituem na enunciação no ato de dizer, e sempre também considerando aqui o lugar de onde fala e o agora o tempo de onde eu fala e esse eu sempre falando para o tu.
Alguns elementos linguísticos só fazem sentido quando eu tomo a palavra.
No processo de enunciação existem conteúdos linguísticos que sempre é composto por pessoa, pelo tempo e espaço.
Em segundo lugar, Benveniste afirmou que a enunciação é a instância do EGO, HIC E NUNC. Eu, aqui e agora. Pessoa, espaço e tempo.
(Todas as línguas, contém pessoa, espaço e tempo)
Por que precisamos desses elementos?
"Estive aqui e não os encontrei. Nossa aula será remarcada para amanhã"
Estive aqui onde?
Não encontrei quem?
Será remarcada para amanhã quando?
Local: Unip
Tempo: 07/11/2018
Eu: Professora Marcia
Tu: Alunos
Para que tenha o conhecimento da língua, essa situação da enunciação é sempre marcada pelo Ego, Hic e Nunc.
Em terceiro lugar, Benveniste afirma que a enunciação é a instância logicamente pressuposta pela presença do enunciado.
O eu dentro do enunciado:
"O colóquio foi semana passada"
Eu afirmei - pressuposto.
Narrador não é o enunciador, o narrador conta a história, o personagem é o ator.
"A professora Carmén disse:
_Eu vou dispensar o 3° trabalho''
Eu: não é o narrador, é o eu interlocutor.
Para cada eu que sempre fala para um tu, quando é um
Enunciador - enunciado
Narrador - narratário
Interlocutor - interlocutário
Conceitos de enunciação por Émile Benveniste a partir dos conceitos de Saussure:
1. A enunciação é a instância de mediação entre a língua e a fala: a teoria da enunciação intermediá a língua e fala, explicando a realização da segunda através da primeira.
2. A enunciação é a instância das categorias de pessoa, tempo e espaço:
EGO, HIC E NUNC
eu, aqui e agora
A categoria pessoa abrange os indivíduos que estão presentes no enunciado, o enunciador e o enunciatário, ou seja, o eu, tu e ele. O eu não é alguém específico, mas o próprio enunciador, a pessoa que fala. Enquanto o tu é aquele para quem se está falando. Ele é uma não pessoa, pois não é um participante do enunciado, mas um ser do qual se está falando.
A categoria espaço abrange os lugares espaciais presentes no enunciado, que podem ser marcados por pronomes demonstrativos, advérbios de lugar ou adjuntos adverbiais de lugar. O espaço varia dependendo do lugar que a enunciação é executada, ao contrário da pessoa e do tempo onde o próprio verbo determina dentro da oração, impedindo-os de ficarem implícitos, o espaço pode ficar implícito e não aparecer no enunciado. E espaço pode aparecer de duas maneiras:
- Marcação enunciativa: o espaço citado se refere ao local da enunciação
- Marcação enunciva: o espaço citado não se refere ao local da enunciação.
A categoria tempo abrange os tempos que estão descritos no enunciado.
- Tempo concomitante: é o momento da enunciação
- Tempo não concomitante: os momentos anteriores e posteriores.
3. A enunciação é uma instância logicamente pressuposta pelo enunciado: somos orientados no sentido de que a interpretação da enunciação e o que é exterior a ela, ou seja, os elementos não textuais é o que define as unidades de pessoa, tempo e espaço.
Semântica Formal
O estudo da semântica torna-se muito amplo quando se entende que esta estuda o significado das línguas naturais. É preciso considerar que, dependendo do ponto de vista, a noção de significado pode mudar. Portanto, entende-se que esse estudo pode ser realizado de vários ângulos.
A semântica formal, todavia, parte do princípio de que é preciso conhecer as condições de verdade de uma sentença para sabermos o seu significado. Esse ponto de vista tem por base a concepção de signo linguístico postulada por Frege, que o entende como a união de uma referência (aquilo do que se fala) e um sentido (o modo de apresentação do objeto). Conhecer o significado de uma sentença é, portanto, nessa perspectiva, conhecer suas condições de verdade, o que significa conhecer as circunstâncias em que a sentença pode ser considerada verdadeira ou falsa. A referência constitui o modo de se referir ao objeto a que se refere. Para tanto, temos outras possibilidades que vão além do uso do léxico simplesmente. As regras sintáticas, por exemplo, podem contribuir para que isso ocorra. Nesse sentido, se temos os seguintes enunciados:
(a) João ama Maria.
(b) Maria ama João.
Podemos entender quem é objeto e quem é o sujeito do verbo pelas construções sintáticas, tornando os elementos ora agente, ora paciente da ação enunciada pelo verbo amar. Além disso, existem algumas maneiras de se referir a indivíduos no mundo. É o caso, por exemplo, do jogador de futebol, atualmente em destaque, que já foi referido pela mídia de diferentes formas: "Ronaldinho", "o fenômeno", "o gorducho". Essas formas definidas de se referir ao mesmo indivíduo são reconhecidas pelo brasileiro devido às condições que as tornam verdadeiras. Portanto, verificamos que a verdade não está relacionada ao que é inerente ao ser referido, mas à construção dela no contexto social em que ele se encontra. Torna-se relevante, portanto, diferenciar referência de sentido. No exemplo dado, sabemos que todas as expressões apontam para o mesmo indivíduo no mundo, ao jogador de futebol que se chama Ronaldo. Esta é a referência. No entanto, cada uma das expressões tem um sentido diferente, pois elas nos informam que o indivíduo Ronaldo pode ser encontrado no mundo por caminhos diferentes. Esses contextos que permitem a substituição de termos com a mesma referência são denominados contextos referenciais ou extensionais (em oposição ao que é intensional, isto é, encontra-se na dimensão do próprio enunciado). Assim, deve-se observar que há as relações semânticas tanto no nível das palavras quanto no das sentenças, e algumas delas são estabelecidas entre os sentidos das expressões, ao passo que outras se estabelecem entre suas referências.
Acarretamento e pressuposição
No nível da palavra, quando temos a hiponímia e a hiperonímia, observamos que há o significado de uma palavra contido no significado de outra. Pode-se, então, transferir essa noção para o nível da sentença para se chegar à noção de acarretamento. Vejamos os exemplos:
(c) João continua fumando.
(d) João fuma desde adolescente.
A informação descrita no enunciado (d) está contida no enunciado (c), o que nos leva a afirmar que (d) é hipônimo de (c), isto é, a afirmação em (c) acarreta a afirmação em (d). No entanto, a hiponímia pode ser estabelecida entre sentidos, ao passo que o acarretamento se estabelece exclusivamente entre referências. Isso quer dizer que uma sentença acarreta outra se a verdade da primeira garante a verdade da segunda ou a falsidade da segunda garante a falsidade da primeira. A noção de acarretamento leva à noção de pressuposição, pois ambas estão relacionadas ao que se denomina implicação. Assim, por exemplo, dizer que (e) implica (f) é apenas sugerir que (f) seja verdadeira:
(e) Hoje tem sol.
(f) Hoje é dia de praia.
Afirmar que a verdade de (e) torna verdade a sentença (f) é apenas provável, mas não necessariamente verdadeiro. A noção de pressuposição vai além do conteúdo informacional da sentença, está relacionada às condições de uso determinadas pelo discurso. Pode-se dizer que uma informação é pressuposta quando ela se mantém mesmo que seja negada. Por exemplo, se alguém disser que o aparelho parou de falhar depois que foi levado ao conserto, concluímos que o aparelho falhava antes, e se dissermos que o aparelho não parou de falhar mesmo depois de levado ao conserto, também concluímos que ele falhava antes.A pressuposição está, pois, ligada às estratégias de orientação argumentativa no discurso. Assim, por meio do que o falante seleciona como pressuposto e o apresenta, pode direcionar a argumentação manifestada no texto.
Ambiguidade
A ambiguidade é estabelecida quando se pode atribuir mais de um sentido ao que foi dito. E isso pode ocorrer em relação ao significado das palavras, ou devido à construção sintática da sentença ou, até mesmo, pela forma como se faz referência no texto.
Veja o exemplo:
"- Oi, Helda. Cadê o Hagar?
- Ele tá no trono.
- O que um plebeu como Hagar tá fazendo no trono?"
A palavra trono produz ambiguidade, e o personagem a entende em seu sentido literal, o que rompe com a coerência e leva ao humor do texto. Entretanto, a ambiguidade pode correr na organização sintática da sentença ou ainda na referenciação. Vejamos:
(g) O policial prendeu o ladrão da viatura.
O sintagma "da viatura" produz ambiguidade. Pode-se entender que foi o local em que o policial prendeu o ladrão ou que este havia roubado uma viatura.
(h) João encontrou sua carteira na rua.
O pronome possessivo é um elemento anafórico que pode retomar o sujeito da oração, "João", ou pode estar se referindo a uma terceira pessoa do contexto situacional. Para finalizar esse tópico, vejamos algumas manchetes encontradas em jornais, nas quais há ambiguidade:
"Von Poser mostra imagens captadas a bordo de dirigível".
"Lula vê PT 'insano' e diz 'pôr a mão no fogo' por Mercadante".
"Candidato do PT interpela vice de Serra no Supremo".
Temos, então, na construção de sentido dos textos, fatos linguísticos e extralinguísticos que contribuem para que o texto não se torne cansativo por apresentar informações explícitas do início ao fim, por exemplo.
Para tanto, verificamos o sentido figurado dos significados construídos no texto, o qual está relacionado às questões relativas a pressuposto, subentendido e implícito. Tomemos como exemplo a seguinte afirmativa:
O pneu do carro parou de trepidar.
O pressuposto é que o pneu trepidava antes. A informação implícita é a de que o carro estava com problemas e, portanto, deveria ser arrumado. Como subentendido, pode-se dizer, então, que não será mais preciso levar o carro à oficina mecânica.
As máximas Conversasionais ( Máximas de Grice)
As máximas conversacionais são princípios descritivos do comportamento linguístico dos falantes e normas específicas de conduta linguística. Ou seja, elas descrevem os raciocínios que os receptores fazem para interpretar os enunciados dos locutores. As máximas conversacionais constituem a competência conversacional dos falantes, pois caso sejam descuradas podem pôr em causa a eficácia do ato comunicativo.
Para Grice (1975), numa situação de diálogo, os interlocutores assumem de maneira implícita um contrato conversacional; um conjunto de normas que regem a conversação. A regra geral desse contrato, o autor denomina Princípio Cooperativo e suas respectivas subrregras seriam as máximas de qualidade, quantidade, relação e modo. O autor sustenta que o sucesso da comunicação é garantido porque os interlocutores partilham das mesmas estratégias de preservação e violação dessas máximas.
O Princípio Cooperativo indica que o locutor "dê a sua contribuição conversacional tal como requerida, na altura em que ocorre, pelo propósito ou direção aceitos da troca verbal na qual você está envolvido" (GRICE, 1957, apud YULE , 1996, p. 37). Esse princípio divide-se em quatro subprincípios, apresentados como Máximas Conversacionais, são elas: Máxima da Quantidade, Máxima da Qualidade, Máxima da Relação eMáxima do Modo, conforme seguem abaixo.
Máxima da quantidade
- Faça com que a sua contribuição seja tão informativa quanto o necessário.
- Não faça a sua contribuição mais informativa que o necessário.
Máxima da qualidade
- Tente fazer com que a sua contribuição seja verdadeira.
- Não diga aquilo que acredita ser falso.
- Não diga aquilo para o que não possui evidência suficiente.
Máxima da relação
- Seja relevante.
Máxima do modo
- Seja claro.
- Evite obscuridade de expressão.
- Evite a ambiguidade.
- Seja breve.
- Seja organizado.
É importante observar que essas máximas já são pressupostas pelos interlocutores e que não necessitam ser explicitadas e acordadas previamente por já fazerem parte de um contrato comunicativo, ou seja, elas são presumidas em interações normais. Os interlocutores presumem que as pessoas, normalmente, fornecerão uma quantidade apropriada de informações, que falarão a verdade, que serão relevantes e que procurarão ser mais claras possível.
VIOLAÇÃO DAS MÁXIMAS CONVERSACIONAIS
Verificamos que, no processo de interação e cooperação, muitas vezes é preciso violar algumas máximas conversacionais para que se possa produzir um determinado efeito de sentido no interlocutor. Analisemos o seguinte cenário.
VIOLAÇÃO DA QUANTIDADE

Nesse exemplo, Jon, o dono de Garfield, viola em sua fala a máxima da quantidade. Mais especificamente, viola o ponto da máxima que diz "Faça com que a sua contribuição seja tão informativa quanto o necessário", pois não fornece informações o suficiente para que se compreenda o porquê de estar chateado. No entanto, Jon sabe que não está dando todas as informações de maneira explícita. Implicitamente, encontra-se sua indicação de que o encontro não ocorreu da maneira que desejava, provavelmente devido a algum acontecimento desagradável durante o mesmo, ou até a uma série de acontecimentos desagradáveis. Após alguns segundos de reflexão, Garfield chega à conclusão de que esses acontecimentos, que para Jon foram desagradáveis, para ele seriam interessantes, e até mesmo uma forma de diversão. Por conta disso, vai atrás de seu dono para obter maiores detalhes.
VIOLAÇÃO DA QUALIDADE

Na tirinha acima, a segunda fala de Jon viola a máxima conversacional em que devemos tentar fazer com que a nossa contribuição seja verdadeira, onde uma das formas de se alcançar é não dizendo aquilo que acreditamos ser falso. Jon afirma "E as galinhas dizem moo", indicando convencionalmente que as galinhas mugem. No entanto, o rapaz sabe que esse dado não é verdadeiro e as galinhas, na verdade, cacarejam. Ainda assim, a intenção de Jon não é a de enganar alguém, tentando convencer Garfield de uma mentira. A insinuação de uma negação está implícita à sua sentença, ou seja,, a implicatura de que, tal qual as galinhas não cacarejam, Liz não tem razão e o seu apartamento não precisa de uma faxina.
É importante observar ainda que há, a princípio, uma inferência convencional na afirmação "Este lugar precisa de uma faxina". No entanto, após refletir sobre a mesma, Jon realiza uma transgressão estratégica intencional e, então, recategoriza o pressuposto convencional inicial ao dizer "E as galinhas dizem "moo". Desse modo, a fala inicial é verdadeira, e a violação só acontece após a recategorização.
Percebe-se claramente nesse exemplo o papel de caráter extremamente relevante do contexto na compreensão das implicaturas. Apesar da sentença "E as galinhas dizem moo" convencionalmente ser afirmativa, outros elementos contextuais, como a expressão facial de Jon, indicam que aquilo obviamente não é algo que ele acredite ser verdadeiro.
VIOLAÇÃO DA RELAÇÃO

A máxima da relação prega que devemos ser relevantes em nossas proposições, o que significa dizer que nossa fala deve ser coerente, isto é, ter relação com o que foi dito anteriormente. A tirinha apresentada inicia com um rapaz contando a seu amigo que sua namorada está grávida apesar de eles terem usado preservativo em suas relações sexuais. O amigo, no entanto, prossegue o diálogo com uma narrativa em que descreve um homem em meio à floresta, que, ao se perceber em perigo com a aproximação de um leão, aponta seu guarda-chuva para o animal e esse, em sequência falece com um tiro. Essa narrativa, a princípio, foge por completo do tema "gravidez e uso de preservativos", que o primeiro rapaz havia trazido para a interação. Esse resolve permanecer no tema abordado pelo amigo - "guarda-chuvas como armas letais que fazem uso de munição" - retrucando que outra pessoa provavelmente teria atirado de uma arma de verdade. O rapaz mantém a relevância ao ater-se ao novo tópico da conversa.
Seu amigo, por seguinte, afirma "exatamente". Nessa sentença encontramos duas implicaturas. A implicatura convencional é a de que o rapaz está correto e realmente havia sido outra pessoa que atirou no leão, levando-o a óbito. No entanto, o humor se dá na implicatura conversacional que também se encontra na última fala do amigo. Ao implicar convencionalmente que o rapaz está correto ao dizer que outra pessoa atirou no leão, o amigo implica também que, da mesma forma, outra pessoa havia engravidado a namorada do rapaz.
Indiretamente, a narrativa do amigo relaciona-se à fala anterior do rapaz. Ao narrar a estória do homem com o guarda-chuva e o leão, o amigo não estava abordando um assunto que não possuía relação com o problema do rapaz. Contrariamente, as duas falas se relacionam, pois narram situações em que alguém acreditava ser responsável por algo que não teria como ter feito, quando, na realidade, outras pessoas havia cometido essas ações. A aparente violação de relação é dissolvida ao imaginarmos uma fala não-dita, porém implicada, que liga os dois ditos.
VIOLAÇÃO DO MODO

A fala de Mafalda parece faltar com a máxima do modo, pois não segue a proposição "seja claro", principalmente no que diz respeito a evitar ambiguidades. O uso da fita métrica por Mafalda para medir a circunferência do globo terrestre, seguido do termo regime, remete ao sentido de dieta, redução alimentar com fins de emagrecimento. No entanto, a relação entre regime e o planeta Terra, por outro lado, se refere não à forma física do planeta, mas sim às formas de governo existentes ao redor do mundo.
O que gera esse caráter dúbio na tirinha é a ambiguidade polissêmica presente no termo regime. Esse vocábulo assume dois significados distintos: dieta e formas de governo. A escolha entre as duas implicaturas não pode ser feita de maneira convencional pelo leitor uma vez que linguisticamente ambas são possíveis, e paralinguísticamente ambas estão representadas nas imagens, ou seja, nas relações fita métrica e regime, e mundo e regime. É essa ambiguidade que traz humor à tira, justificando assim a violação da máxima do modo.
Devemos considerar ainda o contexto histórico das tirinhas de Mafalda em geral. Enquanto criança, Mafalda é muito nova para estar preocupada com a situação governamental e mundial. Contudo, como se sabe, as tirinhas de Mafalda foram escritas e publicadas por Quino entre 1964 e 1973 na Argentina, que vivia, na época, sob regime ditatorial. Por conta disso, as tirinhas de Mafalda apresentam um viés político marcante: através das personagens infantis, seu autor externava sua visão crítica da realidade levando seus leitores a refletirem sobre ela.
Percebe-se, assim, um caráter de uso abundante de implicaturas - e implícitos em geral, pois, ao levar o leitor a interpretar e alcançar o não-dito, Quino pode transmitir sua opinião. O mesmo seria impossível de ser colocado abertamente durante o regime militar sem sofrer severas punições. Através dos implícitos, Quino podia transmitir sua posição política e induzir o leitor a uma postura crítica, sem que fosse percebido pela censura, o que gera certa forma de humor por si só.
Pragmática
Trata-se do ramo da linguística que analisa o uso concreto da linguagem pelos falantes da língua em seus variados contextos. A Pragmática extrapola a significação dada às palavras pela semântica e pela sintaxe, observando o contexto extralinguístico em que estão inscritas; ou seja, ocupa-se da observação dos atos de fala e suas implicações culturais e sociais.
Segundo a Pragmática, o sentido de tudo está na utilidade, no efeito prático que os atos de fala podem gerar. Para ela, o que realmente importa é a comunicação e o funcionamento da linguagem entre os usuários, concentrando-se nos processos de inferência pelos quais compreendemos o que está implícito.
Observe alguns exemplos:
Ex.: 1
Falante 1: - Nossa, as janelas estão todas abertas! Como está frio aqui!
Falante 2: - Só um momento, irei fechá-las.
Embora o falante 1 não tenha solicitado expressamente que as janelas fossem fechadas, o falante 2 inferiu, através da análise do que foi dito por seu interlocutor, que, para eliminar o frio, deveria fechar as janelas, intenção implícita no discurso do falante 1.
Ex.: 2
Falante 1: - O ambiente ficou muito escuro depois que as persianas foram fechadas.
Falante 2: - Vou abri-las novamente.
Conforme você viu, mesmo que o falante 1 não tenha expressado formalmente que gostaria que as persianas fossem abertas, o falante 2 inferiu, através da análise do contexto comunicacional, que, para eliminar a escuridão do ambiente, as persianas deveriam ser abertas, intenção pretendida implicitamente pelo falante 1.
Segundo a Pragmática, o contexto no qual a comunicação está inscrita é essencial para a compreensão do enunciado emitido. Claro que, quanto maior o domínio da linguagem, maior será a capacidade do falante de compreender enunciados implícitos. Nos exemplos utilizados acima, houve pedidos por parte de dois dos falantes, e, como regra constitutiva, os ouvintes disponibilizaram-se a executar aquilo que foi solicitado.
Embora existam muitas definições para a palavra pragmática, linguisticamente, a que mais nos interessa diz respeito ao estudo da linguagem do ponto de vista de seus usuários, analisando as escolhas lexicais feitas, as restrições encontradas no uso da linguagem em determinadas interações sociais e, principalmente, os efeitos que o uso da linguagem tem sobre os outros participantes no ato da comunicação. Sendo assim, a Pragmática pode ser considerada o ponto de convergência entre o uso linguístico e o uso comunicativo, comprovando a intrínseca relação entre a linguagem e a situação comunicativa em que ela está sendo empregada.
A Teoria dos Atos de Fala
No Gênesis, vê-se que a linguagem é um atributo da divindade, pois o criador dela se vale quando realiza sua obra. Deus cria o mundo falando. No início, não havia nada. Depois, há o caos:
No princípio, criou Deus o céu e a terra. A terra, contudo, estava vazia e vaga e as trevas cobriam o abismo e o Espírito de Deus pairava sobre as águas (1,1,2).
A passagem do caos à ordem (=cosmo) faz-se por meio de um ato de linguagem. É esta que dá sentido ao mundo. O poder criador da divindade é exercido pela linguagem, que tem, no mito, um poder ilocucional, já que nela e por ela se ordena o mundo:
Deus disse: "Faça-se a luz". E a luz foi feita. E viu Deus que a luz era boa: e separou a luz e as trevas. Deus chamou à luz dia e às trevas, noite; fez-se uma tarde e uma manhã, primeiro dia (1.3,5).
Ao mesmo tempo que faz as coisas, Deus denomina-as. No universo mítico, dar nome é criar. Até o quinto dia, o senhor vai criando linguisticamente o mundo.
A expulsão do paraíso foi a colocação do homem na História. No âmbito da linguagem, o que pertence à ordem da História é o discurso. Colocar o homem na História é enunciá-lo.
Dentro desta visão performativa da linguagem, é que nos propomos, num esforço de síntese, a acompanhar a evolução do pensamento de Austin.
A Teoria dos Atos de Fala surgiu no interior da Filosofia da Linguagem, no início dos anos sessenta, tendo sido, posteriormente apropriada pela Pragmática. Filósofos da Escola Analítica de Oxford, tendo como pioneiro o inglês John Langshaw Austin (1911-1960), seguido por John Searle e outros, entendiam a linguagem como uma forma de ação ("todo dizer é um fazer"). Passaram, então, a refletir sobre os diversos tipos de ações humanas que se realizam através da linguagem: os "atos de fala", (em inglês, "Speech acts").
A Teoria dos Atos de Fala tem por base doze conferências proferidas por Austin na Universidade de Harvard, EUA, em 1955, e publicadas postumamente, em 1962, no livro How to do Things with words. 0 título da obra resume claramente a idéia principal defendida por Austin: dizer é transmitir informações, mas é também (e sobretudo) uma forma de agir sobre o interlocutor e sobre o mundo circundante.
Até então, os linguistas e os filósofos, de modo geral, pensavam que as afirmações serviam apenas para descrever um estado de coisas, e, portanto, eram verdadeiras ou falsas. Austin põe em xeque essa visão descritiva da língua, mostrando que certas afirmações não servem para descrever nada, mas sim para realizar ações.
Inicialmente, Austin (1962) distinguiu dois tipos de enunciados: os constativos e os performativos:
- enunciados constativos são aqueles que descrevem ou relatam um estado de coisas, e que, por isso, se submetem ao critério de verificabilidade, isto é, podem ser rotulados de verdadeiros ou falsos. Na prática, são os enunciados comumente denominados de afirmações, descrições ou relatos, como Eu jogo futebol ; A Terra gira em torno do sol; A mosca caiu na sopa, etc.;
- enunciados performativos são enunciados que não descrevem, não relatam, nem constatam absolutamente nada, e, portanto, não se submetem ao critério de verificabilidade (não são falsos nem verdadeiros). Mais precisamente, são enunciados que, quando proferidos na primeira pessoa do singular do presente do indicativo, na forma afirmativa e na voz ativa, realizam uma ação (daí o termo performativo: o verbo inglês to perform significa realizar). Eis alguns exemplos: Eu te batizo em nome do Pai, do Filho e do Espírito Santo; Eu te condeno a dez meses de trabalho comunitário; Declaro aberta a sessão; Ordeno que você saia; Eu te perdôo. Tais enunciados, no exato momento em que são proferidos, realizam a ação denotada pelo verbo; não servem para descrever nada, mas sim para executar atos (ato de batizar, condenar, perdoar, abrir uma sessão, etc.). Nesse sentido, dizer algo é fazer algo. Com efeito, dizer, por exemplo, 'Declaro aberta a sessão' não é informar sobre a abertura da sessão, é abrir a sessão. São os enunciados performativos que constituem o maior foco de interesse de Austin.
É preciso observar, no entanto, que o simples fato de proferir um enunciado performativo não garante a sua realização. Para que um enunciado performativo seja bem-sucedido, ou seja, para que a ação por ele designada seja de fato realizada, é preciso, ainda, que as circunstâncias sejam adequadas. Um enunciado performativo pronunciado em circunstâncias inadequadas não é falso, mas sim nulo, sem efeito: ele simplesmente fracassa. Assim, por exemplo, se um faxineiro (e não o presidente da câmara) diz Declaro aberta a sessão, o performativo não se realiza (isto é, a sessão não se abre), porque o faxineiro não tem poder ou autoridade para abrir a sessão. 0 enunciado é, portanto, nulo, sem efeito (ou, nas palavras de Austin, "infeliz").
Aos critérios que precisam ser satisfeitos para que um enunciado performativo seja bem-sucedido, Austin denominou "condições de felicidade". As principais são:
- Falante deve ter autoridade para executar o ato (como no exemplo do parágrafo anterior);
- As circunstâncias em que as palavras são proferidas devem ser apropriadas (se o presidente da câmara declara aberta a sessão, sozinho, em sua casa, o performativo não se realiza, porque não está sendo enunciado nas circunstâncias apropriadas);
Posteriormente, ao tentar fixar um critério gramatical para os enunciados performativos (inicialmente, o critério verbo na primeira pessoa do singular do presente do indicativo etc.), Austin esbarra em muitos problemas, pois constata, entre outras coisas, que:
1. nem todo enunciado performativo tem verbo na primeira pessoa do singular do presente do indicativo na forma afirmativa e na voz ativa. Eis alguns exemplos:
Proibido fumar; Vocês estão autorizados a sair; Todos os funcionários estão convidados para a reunião de hoje. Nesses exemplos, os atos de proibição, autorização e convite se realizam sem o emprego de proíbo, autorizo e convido;
2. nem todo enunciado na primeira pessoa do singular do presente do indicativo na forma afirmativa e na voz ativa é performativo. Eis alguns exemplos: Eu jogo futebol; Eu corro; Eu estudo inglês. Nesses exemplos, os atos de jogar futebol, correr e estudar inglês não se realizam ao se enunciar tais sentenças.
Apesar disso, Austin não abandona, logo de início, a idéia de encontrar um critério gramatical para definir os enunciados performativos, mas parece que acaba encontrando mais problemas do que soluções. Um deles é a constatação de que pode haver enunciados performativos sem nenhuma palavra relacionada ao ato que executam. É o caso, por exemplo, de enunciados como Curva perigosa e Virei amanhã, que podem equivaler, respectivamente, a Eu te advirto que a curva é perigosa e Eu prometo que virei amanhã. É o caso também dos imperativos, como Feche a porta, cuja performatividade pode ser explicitada em Eu ordeno que você feche a porta.
Há, porém, uma diferença entre esses dois tipos de performativo: Eu ordeno que você saia é uma frase que tem uma indicação muito precisa do ato que realiza: trata-se de uma ordem e nada mais. Já Saia é vago ou ambíguo: pode ser uma ordem, um pedido, um conselho etc.
Face a essa constatação, Austin passa a propor a distinção performativo explícito (para enunciados com performatividade explícita, como em Eu ordeno que você saia), em oposição a performativo implícito, ou primário (para enunciados sem performatividade explícita, como em Saia). 0 performativo primário seria uma espécie de forma reduzida do performativo explícito.
A partir dessa distinção, Austin constata que a denominação performativo primário também se aplica aos enunciados constativos, e acaba admitindo que a distinção constativo-performativo se desfaz, já que é possível transformar qualquer enunciado constativo em performativo, bastando antecedê-lo de verbos como declarar, afirmar, dizer, etc. Por exemplo- [Eu afirmo que] A mosca caiu na sopa; [Eu digo que]vai chover; [Eu afirmo que]A terra é redonda, etc.
Ao concluir que todos os enunciados são performativos (porque, no momento em que são enunciados, realizam algum tipo de ação), Austin retoma o problema em novas bases, e identifica três atos simultâneos que se realizam em cada enunciado: o locucionário, o ilocucionário e o perlocucionário:
Austin, então, postula que todo ato de fala é ao mesmo tempo locucionário, ilocucionário e perlocucionário. Assim, quando se enuncia a frase Eu prometo que estarei em casa hoje à noite, há o ato de enunciar cada elemento linguístico que compõe a frase. É o ato locucionário. Paralelamente, no momento em que se enuncia essa frase, realiza-se o ato de promessa.
É o ato ilocucionário: o ato que se realiza na linguagem. Quando se enuncia essa frase, o resultado pode ser de ameaça, de agrado ou de desagrado.
Trata-se do ato perlocucionário: um ato que não se realiza na linguagem, mas pela linguagem.
Todas essas noções são retomadas e sistematizadas por John Searle, primeiramente em Speech actos (1969) e depois em Expression and meaning (1979). Searle distingue cinco grandes categorias de atos de linguagem:
1. os representativos (mostram a crença do locutor quanto à verdade de uma proposição: afirmar, asseverar, dizer);
2. os diretivos (tentam levar o alocutário a fazer algo: ordenar, pedir, mandar);
3. os comissivos (comprometem o locutor com uma ação futura: prometer, garantir);
4. os expressivos (expressam sentimentos: desculpar, agradecer, dar boas vindas);
5. e os declarativos (produzem uma situação externa nova: batizar, demitir, condenar).
Searle postula que, ao se comunicar uma frase, realizam-se um ato proposicional (que corresponde à referência e à predicação, isto é, ao conteúdo comunicado ) e um ato ilocucional (que corresponde ao ato que se realiza na linguagem). Assim, para Searle, enunciar uma sentença é executar um ato proposicional e um ato ilocucional.
Searle chama a atenção ainda para o fato de que não há uma correspondência biunívoca entre conteúdo proposicional e força ilocutória, dado que um mesmo conteúdo proposicional pode exprimir diferentes valores ilocutórios. A proposição João, estude bastante, por exemplo, pode ter força ilocutória de ordem, pedido, conselho, etc.
Essa falta de correspondência biunívoca entre a estrutura sintática dos enunciados (declarativa, interrogativa, imperativa, etc.) e o seu valor ilocucionário (de asserção, pergunta, ordem, pedido, etc.) levou a se estabelecer uma outra distinção no interior da Teoria dos Atos de Fala: a distinção entre atos de fala diretos e atos de fala indiretos:
- um ato de fala é direto, quando realizado por meio de formas lingüísticas especializadas, isto é, típicas daquele tipo de ato. Há, por exemplo, uma entonação típica para perguntas; as formas imperativas são tipicamente usadas para dar ordens ou fazer pedidos; expressões como por favor, por gentileza, etc. são tipicamente usadas para fazer pedidos ou solicitações, etc. Eis alguns exemplos: Que horas são? (ato de perguntar); Saia daqui (ato de ordenar); Por favor, traga-me um copo d'água (ato de pedir);
- um ato de fala é indireto (ou derivado), quando realizado indiretamente, isto é, por meio de formas lingüísticas típicas de outro tipo de ato. Nesse sentido, "dizer é fazer uma coisa sob a aparência de outra" . Eis alguns exemplos:
- Você tem um cigarro? (pedido com aparência de pergunta) Quem enuncia essa frase não está perguntando se o alocutário tem ou não um cigarro, mas sim pedindo-lhe que ceda um cigarro.
- Como está abafada esta sala! (pedido com aparência de constatação) Normalmente, quem enuncia essa frase não está simplesmente fazendo uma constatação sobre a temperatura no interior do recinto, mas sim pedindo que o alocutário faça algo para amenizar o calor, como abrir as janelas, ligar o ventilador, o ar-condicionado,etc.
- Você pode fechar a porta? (pedido com aparência de pergunta) Quem enuncia essa frase não está perguntando sobre a (in)capacidade fisica do alocutário de fechar a porta, mas sim pedindo-lhe que feche a porta. Seria estranho se o alocutário pensasse que a pergunta é mera curiosidade e respondesse simplesmente sim ou não.
Nesses casos, Searle (1982) denomina de "secundários" os atos de perguntar, constatar, etc. e de "primário" o ato de pedir. No entanto, do ponto de vista da interpretação, pode-se dizer que o valor de pergunta e constatação é "literal", e o valor de pedido, "derivado".
O principal mecanismo interpretativo que intervém na decodificação dos atos de fala indiretos são as célebres máximas conversacionais do linguista Paul Grice. Quanto menos convencionalizado é um ato de fala indireto, mais ele necessita do contexto para esclarecer seu valor ilocutório.
Antes de concluir, cumpre salientar que a Teoria dos Atos de Fala trouxe para o foco de atenção dos estudos linguísticos os elementos do contexto (quem fala, com quem se fala, para que se fala, onde se fala, o que se fala, etc.), os quais fornecem importantes pistas para a compreensão dos enunciados. Essa proposta muito tem influenciado e inspirado os estudos posteriores destinados a aprofundar as questões que envolvem a análise dos diferentes tipos de discurso. Com efeito, os atos de fala são, hoje, uma fonte inesgotável de trabalhos tanto na área da Pragmática, quanto na área da Linguística em geral, bem como em outras áreas de estudos linguísticos.
Para muitos, a obra de Austin constituiu um verdadeiro marco divisor dos estudos linguísticos, inaugurando uma nova concepção de linguagem: uma concepção performativa e pragmática de uso da linguagem, rompendo, assim, com uma longa tradição de estudos linguísticos, caracterizada por uma concepção meramente descritiva da linguagem.