Linguística

Linguística é a ciência que estuda a linguagem verbal humana. Como toda a ciência, ela baseia-se em observações conduzidas através de métodos, com fundamentação em uma teoria.
Portanto, a função de um linguista é estudar toda e qualquer manifestação linguística como um fato merecedor de descrição e explicação dentro de um quadro científico adequado.
Para um linguista é muito mais interessante uma passagem do tipo:
Para um linguista é muito mais interessante uma passagem do tipo:
- Cumé qui é?
a outra:
- Como é que é?
Pois as variações linguísticas e seus motivos socio-culturais são, cientificamente, muito mais relevantes do que a norma padrão da língua, isto é, o jeito "correto" de falar.
O linguista quer descobrir como a língua funciona, estudando várias dessas línguas, de forma empírica (através de dados baseados na experiência), dando preferência às variações populares faladas em diversas comunidades.
Os critérios de coleta, organização, seleção e análise dos dados linguísticos obedecem a uma teoria linguística expressamente formulada para esse fim.
Divisões da Linguística
1. Considerando o foco da análise:
- Linguística Descritiva (ou sincrônica): Fala de uma língua, descrevendo-a simultaneamente no tempo, analisa as relações existentes entre os fatos linguísticos em um estado da língua, além de fornecer dados que confirmam ou não as hipóteses. Modernamente, ela cede lugar à Linguística Teórica, que constrói modelos teóricos, mais do que descreve;
- Linguística História (ou diacrônica): Analisa as mudanças que a língua sofre através dos tempos, preocupando-se, principalmente, com as transformações ocorridas;
- Linguística Teórica: Procura estudar questões sobre como as pessoas, usando suas linguagens, conseguem comunicar-se; quais propriedades todas as linguagens têm em comum; qual conhecimento uma pessoa deve possuir para ser capaz de usar uma linguagem e como a habilidade linguística é adquirida pelas crianças;
- Linguística Aplicada: Utiliza conhecimentos da linguística para solucionar problemas, geralmente referentes ao ensino de línguas, à tradução ou aos distúrbios de linguagem.
- Linguística Geral: Engloba todas as áreas, sem um detalhamento profundo. Fornece modelos e conceitos que fundamentarão a análise das línguas.
A Língua Segundo Saussure
"A língua é um sistema cujas partes podem e devem ser consideradas em sua solidariedade sincrônica" (Saussure, 1975).
Para Saussure "é sincrônico tudo quanto se relacione com o aspecto estático da nossa ciência, diacrônico tudo que diz respeito às evoluções. Do mesmo modo, sincronia e diacronia designarão respectivamente um estado de língua e uma fase de evolução" (SAUSSURE, 1995, p.96).
Por língua entende-se um conjunto de elementos que podem ser estudados simultaneamente, tanto na associação paradigmática como na sintagmática. Por solidariedade objetiva-se dizer que um elemento depende do outro para ser formado.
Para Ferdinand Saussure a linguagem é social e individual; psíquica; psico-fisiológica e física. Portanto, a fusão de Língua e Fala. Para ele, a Língua é definida como a parte social da linguagem e que só um indivíduo não é capaz de mudá-la. O linguista afirma que "a língua é um sistema supra-individual utilizado como meio de comunicação entre os membros de uma comunidade", portanto "a língua corresponde à parte essencial da linguagem e o indivíduo, sozinho, não pode criar nem modificar a língua" (COSTA, 2008, p.116).
A Fala é a parte individual da Linguagem que é formada por um ato individual de caráter infinito. Para Saussure é um "ato individual de vontade e inteligência" (SAUSSURE, 1995, p.22).
Língua e Fala se relacionam no fato da Fala ser a condição de ocorrência da Língua.
O signo linguístico resulta de uma convenção entre os membros de uma determinada comunidade para determinar significado e significante. Portanto, se um som existe dentro de uma língua ele passa a ter significado, algo que não aconteceria se ele fosse somente um som em si.
Então, "afirmar que o signo linguístico é arbitrário, como fez Saussure, significa reconhecer que não existe uma reação necessária, natural, entre a sua imagem acústica (seu significante) e o sentido a que ela nos remete (seu significante)." (COSTA, 2008, p.119).
O sintagma é a combinação de palavras que podem ser associadas, portanto, as palavras podem ser comparadas ao paradigma.
"No discurso, os termos estabelecem entre si, em virtude de seu encadeamento, relações baseadas no caráter linear da língua, que exclui a possibilidade de pronunciar dois elementos ao mesmo tempo. Estes se alinham um após outro na cadeia da fala. Tais combinações, que se apoiam na extensão, podem ser chamadas de sintagmas." (SAUSSURE, 1995, p.142)
As relações paradigmáticas se caracterizam pela associação entre um termo de um contexto sintático. Por exemplo, gato e gado. Quando se juntam as partes paradigmáticas, ocorre o sintagma. Em geral,
"as línguas apresentam relações paradigmáticas ou associativas que dizem respeito à associação mental que se dá entre a unidade linguística que ocupa um determinado contexto (uma determinada posição na frase) e todas as outras unidades ausentes que, por pertencerem à mesma classe daquela que está presente poderiam substituí-la nesse mesmo contexto." (COSTA, 2008, p.121)
É importante ressaltar que sintagmas e paradigmas seguem a regra da língua para que essa relação associativa ocorra. Portanto,
"as relações paradigmáticas manifestam-se como relações in absentia, pois caracterizam a associação entre um termo que está presente em um determinado contexto sintático com outros que estão ausentes desse contexto, mas que são importantes para a sua caracterização em termos opositivos." (COSTA, 2008, p.121)
Conclui-se que, "as relações sintagmáticas e as relações paradigmáticas ocorrem concomitantemente." (COSTA, 2008, p.122)
No livro Curso de linguística geral, Saussure afirma que "a linguística tem por único e verdadeiro objeto a língua considerada em si mesma e por si mesma", assim, esta é fundamental para que possamos compreender os postulados de Saussure.
A afirmativa Saussureana explícita que a linguística se preocupa exclusivamente com o estudo da língua por ela ser um sistema de regras e organizações utilizadas por uma determinada comunidade para a comunicação e compreensão entre si.
Para Saussure, "a linguística seria um ramo da semiologia, apresentando um caráter mais específico em função de seu particular interesse pela linguagem verbal." (MARTELOTTA, 2008, p.23)
Para o linguista suíço, a linguística pretende
"fazer a descrição e a história de todas as línguas que puder abranger, o que quer dizer: fazer a história das famílias de línguas e reconstituir, na medida do possível, as línguas-mães de cada família; procurar as forças que estão em jogo, de modo permanente e universal, em todas as línguas e deduzir as leis gerais às quais se possam referir todos os fenômenos peculiares da histórias; delimitar-se e definir-se a si própria." (SAUSSURE, 1995, p.13)
Cada língua apresenta uma estrutura específica e esta estruturação é evidenciada a partir de três níveis: o fonológico, o morfológico e o sintático, que constituem uma hierarquia com o fonológico na base e o sintático no topo. Portanto, cada unidade é definida em função de sua posição estrutural, de acordo com os elementos que a precedem e que a seguem na construção.
Dicotomias de Saussure
Método dominante de fazer linguística no século XIX é o chamado método histórico comparativo. Um dos teóricos mais importantes dessa época é sem dúvida Ferdinand de Saussure. Através do método histórico comparativo é possível fazer observações como a semelhança do Francês para o Português, que nos aponta a origem dessas duas línguas, ambas vieram do latim.
Saussure definiu um novo objeto de estudos para a linguística, as dicotomias. No curso de linguística geral de Saussure não aparece o termo dicotomia, más há quatro pares de conceitos que fazem uma síntese da analise de Saussure, esses conceitos ou dicotomias são: diacronia VS sincronia, língua VS fala, significante VS significado e paradigma VS sintagma. A palavra dicotomia deriva do grego dichotomia, que significa dividir em partes iguais.
Sincronia VS diacronia.
Saussure não foi o inventor da linguística, ele estabeleceu um objeto de estudo para ela. Antes de Saussure se usava o método histórico comparativo, que Saussure denominou diacronia.
Diacronia vem do grego dia que significa através e kronos que significa tempo. O estudo diacrônico estuda as mudanças que a língua sofreu através do tempo.
Enquanto a diacronia estuda as mudanças que a língua sofreu através do tempo, o estudo sincrônico é o estudo da língua num determinado período do tempo. A palavra sincronia vem do grego sin que significa juntamente, e kronos que significa tempo.
A partir da dicotomia sincronia VS diacronia Saussure determina uma distinção entre fatos sincrônicos e fatos diacrônicos, os fatos sincrônicos estabelecem períodos de regularidade num tempo da língua, a diacronia é a sucessão dessas sincronias.
Língua VS fala.
Para Saussure a língua se opõe a fala, sendo que a língua é coletiva e a fala é individual.
A língua é um sistema de signos estruturados, ela é sistemática, enquanto a fala é individual. Enquanto a língua é um dado social, a fala é particular. A fala é a forma como um indivíduo utiliza a língua. Os fatos de língua podem ser estudados separadamente dos fatos de fala. Em algumas partes do nosso país as pessoas pronunciam mulé ao invés de mulher, num fato como esse a língua não é alterada, pois lá também é usada a forma mulher, a fala só altera a língua quando a estrutura é alterada. A língua é um sistema organizado enquanto a fala é a forma particular de usar esse sistema.
Significante VS significado.
Signo segundo Saussure é a junção de um significante com um significado.
A língua não é uma mera nomenclatura, mas sim a relação de uma imagem acústica com um conceito, isto é, um significante e um significado, que juntos formam um signo. Um signo ganha valor em sua relação com outros signos. A semiologia é a ciência dos signos gerais, enquanto a linguística é a ciência dos signos verbais.
Paradigma VS sintagma
Para Saussure as relações com os elementos linguísticos são estabelecidas em dois domínios distintos: um eixo de seleção (paradigmático), e um eixo de combinação (sintagmático).
Os signos sendo alinhados um após o outro formam uma relação chamada sintagmática, sintagma no grego quer dizer coisa posta em ordem. A relação baseada nos elementos que são combinados se chama paradigmática, paradigma vem do grego paradéigma que quer dizer modelo, exemplo.
A dicotomia paradigma VS sintagma está no domínio da língua e não da fala, isso porque pertence ao sistema estruturado, enquanto a fala é a realização desse sistema pelo ato individual.
Tantos as relações paradigmáticas quanto as sintagmáticas ocorrem em todos os níveis da língua: o dos sons, o dos morfemas e o das palavras.
Conceito de estruturalismo
Saussure utiliza uma metáfora que nos auxilia a compreender minimamente a perspectiva teórica estruturalista: o jogo de xadrez.
Desconhecendo completamente essa atividade e observando-a pela primeira vez, notamos tão somente os movimentos das peças pelo tabuleiro, produzidos pelos participantes da disputa.
Com o conhecimento das normas do jogo, avançamos em nosso entendimento, quer dizer, constatamos que as peças não se movem livremente, exclusivamente de acordo com o desejo dos competidores.
É certo que os jogadores de xadrez realizam suas escolhas, porém limitados pelas regras da disputa: os possíveis deslocamentos das peças são previamente delimitados pelo regulamento da disputa. Às diferentes peças são atribuídas possibilidades específicas de movimento e todas elas são articuladas, na totalidade, às regras do jogo, ou melhor, à estrutura.
Um jogo de xadrez, portanto, realiza-se sempre no interior de uma estrutura que delimita a sua dinâmica.
Essa metáfora contribui para a explicitação do conceito de estrutura - fundamental, evidentemente, no pensamento estruturalista. Uma estrutura é um sistema ou conjunto em que se relacionam diversos elementos por intermédio de regras que determinam seu comportamento e seu desenvolvimento.
Nenhum desses elementos existe exteriormente à estrutura e a mudança de um deles repercute no todo, ou seja, uma estrutura comporta transformações que se regulam, sempre, pela totalidade.
Exemplo de estruturalismo na linguística
Exemplificando brevemente essa conceituação de estrutura com a concepção de linguagem de Saussure, notamos que, para esse autor, uma língua não é simplesmente um elenco de palavras, mas, sim, uma estrutura em que os usos e significados dos vocábulos definem-se em suas relações recíprocas, reguladas justamente pelo repertório de regras que viabilizam a comunicação entre os seres humanos.
Exemplos de estruturalismo em outras ciências
O ponto de vista estruturalista é incorporado por muitos estudiosos das ciências humanas e da filosofia no século XX, suscitando várias interpretações da realidade humana, social e cultural calcadas na noção de estrutura.
Em que pese a diversidade de tendências estruturalistas - na antropologia, na sociologia, na psicologia e na filosofia -, podemos identificar alguns aspectos comuns presentes com maior ou menor intensidade nas diferentes versões do estruturalismo.
Uma dessas características é a explicação da realidade com base em seus fundamentos estruturais. Para os estruturalistas, são os fatores estruturais que determinam ou, pelo menos, condicionam significativamente a vida dos seres humanos, suas atitudes, seus pensamentos, seus sentimentos. Esse traço essencial do estruturalismo implica uma postura declaradamente crítica em relação às noções filosóficas de sujeito e de liberdade humana.
Afinal, a ênfase na estrutura deriva da negação da existência de sujeitos humanos realmente autônomos, tanto sob o prisma teórico - por exemplo, na subjetividade concebida pela filosofia de René Descartes, que diagnostica o eu pensante como sua primeira certeza -, quanto sob o plano prático - por exemplo, as diferentes filosofias que compreendem as condutas humanas como escolhas livremente efetuadas pelos indivíduos.
Nesse sentido, recusa-se também a ideia de ampla liberdade dos seres humanos individuais - como na filosofia existencialista de Jean-Paul Sartre -, uma vez que a própria individualidade é constituída pelos aspectos estruturais da sociedade.
Teoria Gerativa de Noam Chomsky
Nos anos 50, Noam Chomsky, linguista americano, discípulo de um distribucionalista também americano conhecido por Z. Harris, começa a propor que a linguagem não seja tão presa à classificação de dados, mas que dê um lugar importante à teoria.
Inspirado no racionalismo e da tradição lógica dos estudos da linguagem, ele apresenta uma teoria a que chama de gramática e seu estudo se dá especificamente na sintaxe que, para ele, constitui um nível autônomo e central para a explicação da linguagem.
A função dessa gramática não é ditar regras, mas envolver todas e apenas as frases gramaticais, ou seja, as que pertencem à língua. É assim que surge a Gramática Gerativa de Noam Chomsky. Gerativa (gerar - criar frases) porque permite, a partir de um número limitado de regras, gerar um número infinito de sequências.
Esse processo é dedutivo: parte do que é abstrato, isto é, um axioma (proposição evidente por si mesma) e um sistema de regras, e chega ao concreto, ou seja, as frases existentes na língua. É com essa proposta que a teoria da linguagem deixa de ser apenas descritiva para ser também explicativa.
Para Chomsky, é tarefa do linguista descrever a competência do falante. Ele define competência como capacidade inata que o indivíduo tem de produzir, compreender e de reconhecer a estrutura de todas as frases de sua língua. Ele defende que língua é conjunto infinito de frases e que se define não só pelas frases existentes, mas também pelas possíveis, aquelas que se podem criar a partir de interiorização das regras da língua, tornando os falantes aptos a produzir frases que até mesmo nunca foram ouvidas por ele. Já o desempenho (performance ou uso), é determinado pelo contexto onde o falante está inserido.
O termo gramática é usado de forma dupla: é o sistema de regras possuídos pelo falante e, ao mesmo tempo, é o artefato que o linguista constrói para caracterizar esse sistema. A gramática é, ao mesmo tempo, um modelo psicológico da atividade do falante e uma "máquina" de produzir frases.
A teoria chomskiana conduz ao universalismo, segundo Orlandi, pois o que está em questão é o "falante ideal", e não locutores reais do uso concreto da linguagem. A capacidade para desenvolver a linguagem é uma habilidade inata do ser humano: já nascemos com ela. E como a espécie humana é caracterizada pela racionalidade, a questão fundamental para essa linha de estudo é a relação entre linguagem e pensamento. Seus estudos se centralizam no percurso psíquico da linguagem como e, em consequência disso, no domínio da razão.
Desta forma, a reflexão de Chomsky acaba por trazer para a Linguística toda uma contribuição de estudos nas áreas da Lógica e da Matemática e, por outro lado, apresenta uma nova abordagem até então inexplorada: estudos sobre os fundamentos biológicos da linguagem (característica da espécie humana).
As Dicotomias de Noam Chomsky
A TEORIA DE PRINCÍPIOS E PARÂMETROS
Elaborada por Chomsky, em 1984, a Teoria de princípios e parâmetros significou uma adequação dos conceitos da gramática universal face aos questionamentos surgidos em torno da mesma, bem como diante das novas descobertas na área da aquisição da linguagem. Nessa releitura "...postula-se que a criança nasce pré-programada com princípios (universais) e um conjunto de parâmetros que deverão ser fixados ou marcados de acordo com os dados da língua a que a criança está exposta. A criança não escolhe mais as regras, nesta versão da teoria de princípios e parâmetros, mas valores, paramétricos".
Em outras palavras podemos dizer que se passou a acreditar que a gramática universal é disposta por princípios ou "leis" que são constantes e que são usadas igualmente em todas as línguas; contendo também parâmetros ou "leis" que tem representações definidas pela língua que se encontre, ocasionando as divergências entre as línguas e as transformações dentro de uma mesma língua. Nessa teoria a função da criança é analisar todas as partes do imput e depois processá-lo a fim de atribuir o valor que cada parâmetro deve possuir.
Para um melhor esclarecimento, vamos exemplificar do seguinte modo: partindo da concepção de que todas as frases, indistintamente da língua, requerem um sujeito, contudo esse sujeito não necessariamente tem que estar explicito, sendo esse parâmetro ou valor que deve ser fixado. A criança, dependendo do sistema linguístico em que se encontra, decidirá se o sujeito deve ou não constar obrigatoriamente na frase realizada.
Entretanto, muitas perguntas sobre a problemática dos parâmetros ainda esperam por uma explicação, tais como: "...quantos são os valores dos parâmetros? no estado inicial da GU, um dado parâmetro já tem uma marcação especifica ou não tem marcação alguma? é possível haver reparametrização? o que desencadearia a parametrização?..."
Buscando desvendar como se dá à atribuição dos valores aos parâmetros temos três hipóteses que se propõem da conta de tal questão. A primeira afirma que no começo do processo os parâmetros não estão completamente presentes e só com o prosseguimento da aquisição da linguagem é que esses surgem, crendo também que os mesmos são organizados geneticamente, de modo a ocorrerem em determinadas etapas do amadurecimento do individuo, cujos fatores motivadores de tal processo são responsáveis pela transcrição da gramática universal para a gramática da língua nativa.
A segunda hipótese divide-se em duas perspectivas, a da competência plena/total, o entendimento que se teve é que todos os princípios estão presentes no começo do processo, caso não ocorra à delimitação logo, o motivo pode ser um problema de memória, por exemplo, na referida delimitação. Já a hipótese de aprendizagem lexical explica, segundo Pinker (1984), que os princípios estejam completamente presentes, a evolução sintática depende da interiorização de partes morfológicas e lexicais novas, o que pressupõe a interação com o meio que rodeia o individuo.
Outras partes primordiais da teoria de parâmetros da aquisição da linguagem é a explicação da aprendizagem da língua, vista as fontes que dão suporte as crianças são tão escassas. A resposta de Chomsky fundamenta-se exatamente na existência da gramática universal enquanto conjunto de "...princípios inatos, biologicamente determinados, que constituem o componente da mente humana - faculdade da linguagem". ( Há também a questão da dissociação dos dispositivos de aquisição da linguagem das demais instâncias cognitivas comportamentais, ou seja, a aquisição da língua deu acionamento da Gramática Universal e da definição de parâmetros não são obrigatoriamente atrelados aos outros sistemas cognitivos, memória por exemplo, bem como a interação social.
O Gerativismo de Noam Chomsky e os conceitos de Competência e
Desempenho
O surgimento da Linguística Gerativista em 1957, e a publicação do livro
Estruturas Sintáticas de Noam Chomsky, representaram uma resposta e
rejeição ao modelo behaviorista do estruturalismo americano. Para os
estruturalistas americanos, principalmente para Leonard Bloomfield, os sujeitos
não nasciam com a capacidade de linguagem, ou seja, para os estruturalistas
norte-americanos a linguagem era adquirida através da interação dos sujeitos
com a sociedade em que viviam. Já para os gerativistas, a linguagem era uma
capacidade inata, que segundo Chomsky (1957) era chamada de Faculdade de
Linguagem.
De acordo com este autor (1957), a criatividade é o principal fator
responsável pela identificação da linguagem humana, pois o ser humano é
capaz de criar, interpretar e reproduzir outras formas de comunicação. Assim,
podemos dizer, segundo a gramática gerativa que há uma aproximação das
ciências naturais com as ciências humanas. Para confirmar esse princípio de
que a linguagem é uma capacidade inata, os gerativistas destacam alguns
problemas patológicos que envolvem algumas áreas do cérebro humano
responsável pela linguagem, por exemplo, a afasia, um problema que afeta a
capacidade de aquisição da linguagem.
Sobre a Gramática como sistema de regras, os gerativistas defendiam
que com um número finito de regras gramaticais podemos formular infinitas
sentenças de uma língua. Esse princípio do gerativismo ficou conhecido como
Propriedade de Infinitude Discreta. Os linguístas gerativistas se apoiam em
dois princípios: a Competência e o Desempenho linguístico.
Com o desenvolvimento da Linguística Gerativa no início da década de 1980, a ideia da competência foi cedendo lugar à Gramática Universal. Na qual, os sujeitos falantes, podem criar sentenças de acordo com a gramática interna. Sobre os Universais Linguísticos, Chomsky (1957) afirma, por exemplo, que toda Língua tem um Sujeito e Predicado e que, existe o Fenômeno da Recursividade, no qual, podem-se transformar sentenças simples em sentenças complexas. Então, a linguagem para os seres humanos, segundo o gerativismo, é uma capacidade inata, que, relaciona-se com o natural, biológico (KENEDY, 2008). Assim, a gramática universal pressupõe que os sujeitos falantes são aptos para desenvolver a gramática de uma língua porque todas as línguas têm um sistema numérico e que eles têm a capacidade de memória, ou seja, a produção de vários enunciados de acordo com o conhecimento adquirido ao longo da interação com outros sujeitos falantes. Nessa concepção, tem-se a aprendizagem de termos baseados em números finitos de informação, ou seja, a partir de poucas evidências pode-se adquirir muito conhecimento. Ainda seguindo o pensamento de Chomsky (1957), a linguagem é da ordem da aquisição e não da aprendizagem. Praticar uma língua estrangeira até 14 ou 15 anos de idade é de forma natural, pois se está apto para o desenvolvimento de diferentes maneiras de comunicação ocorrendo, assim, a aquisição da língua. Após esse período, é mais complicado adquirir uma linguagem, pois, passa-se a aprendê-la. O autor apoia-se nos estudos de um falante-ouvinte ideal, em uma comunidade, completamente, homogênea. Este falante conhece a língua perfeitamente e expressa este conhecimento pela competência linguística e pelo desempenho. A Competência Linguística é definida, por Chomsky, como um "sistema de regras interiorizado pelos falantes que permite produzir um conjunto infinitamente grande de sentenças. É o conhecimento que o falante tem das estruturas da língua, não conscientemente, mas implicitamente." (KENEDY, 2008, p. 130). Desempenho Linguístico, definido por Chomsky como "conjunto de imposições que limitam o uso da competência. É a imperfeita manifestação do sistema. É o uso real da língua em uma situação concreta." (KENEDY, 2008, p. 130). Percebe-se, então, que o conceito de competência está associado à língua abstrata. Em outras palavras, competência é o conhecimento da estrutura da língua. Já o desempenho é a manifestação imperfeita da língua. Assim, Chomsky (1957) privilegia a competência para ancorar o gerativismo e não aprofundou seus estudos no desempenho. E isso implicou criticas ao gerativismo e aos termos Competência e Desempenho.
Gramatical e Agramatical
Gramaticidade é a característica
da língua que possibilita um falante compreender o outro que compartilhe das
mesmas correlações entre significados e sequências de sons. A construção de uma sentença compreendível por
outros é a demonstração desta característica.
Gramática Internalizada
Capacidade que um
indivíduo falante possui de reconhecer, sem que ninguém tenha lhe instruído
formalmente, sentenças e expressões como da sua língua. Esta capacidade envolve habilidades léxicas e
sintático-semânticas.
Gramática Normativa
É aquela que prescreve as regras, normas gramaticais
de uma língua. Ela admite apenas uma forma correta para a realização da língua,
tratando as variações como erros gramaticais. Atualmente é muito criticada
pelos gramáticos, pois já se admitem outras gramáticas como a descritiva, a gerativa e etc.
A Gramática Normativa toma como base as regras gramaticais tradicionais e o uso da língua por dialetos de prestígio como por exemplo obras literárias consagradas, textos científicos, discursos formais, etc.
Gramática Universal
O termo Gramática Universal, popularizado por Noam Chomsky nos anos 1960, é bem conhecido entre linguistas, mas causa muita confusão entre o público geral.
O linguista David Pesetsky observa que se trata de um termo técnico da Linguística, que não deve ser interpretado com o sentido de "uma gramática que é universal". O termo foi usado por Chomsky em sua famosa obra Aspects of the theory of Syntax (1965). No entanto, não foi ele quem o inventou. Segundo Pesetsky, ele adaptou um termo usado por gramáticos franceses do século XVII ao fazer uma busca pelas raízes históricas das ideias que estava elaborando. O termo pegou e perdura até hoje. Mas, afinal, o que é Gramática Universal? Segundo Pesetsky:
"É tudo o que subjaz a nossa habilidade de adquirir e usar as línguas que nós, como uma espécie, de fato adquirimos (e usamos) - especialmente aqueles aspectos dessa habilidade que parecem particulares à língua."
Por exemplo, o autor explica que ter uma boca com determinado formato é uma pré-condição para se falar inglês, mas isso não seria parte da GU! A Gramática Universal abrange as propriedades mentais que estão por trás das leis que regem a estrutura das sentenças. Essas propriedades são parte da GU, uma vez que seriam comuns a todas as línguas do mundo!
Enfim, as línguas têm muito em comum, mas as suas similaridades estão longe de serem óbvias. Por isso, linguistas devem pesquisar e analisar a fundo as estruturas e as estratégias presentes nas diversas línguas para desvendar os seus pontos comuns.
O significado de agramaticalidade e de erro
1. Gramaticalidade
O linguista tem por objectivo descrever o sistema da língua. Para tal, toma como base do seu estudo a análise de um corpus de enunciados, ou de segmentos de enunciados, efectivamente produzidos pelos falantes nativos de uma língua.
Na recolha desse corpus faz-se apelo à intuição linguística dos informantes. O falante/informante faz então um julgamento sobre se um dado enunciado pertence ou não à sua língua. Ora, um falante pode considerar um enunciado anómalo por múltiplas razões: ele pode excluir a viabilidade de um enunciado porque o considera pesado, confuso ou inestético. Porém, ao linguista interessa apenas saber se um dado enunciado é ou não possível numa língua, isto é, se (i) está em conformidade com as regras de formação do enunciado; (ii) se é passível de ser produzido com regularidade nessa língua.
Daí que a noção de gramaticalidade admita graus, ou seja, se desenrole num continuum:
- o asterisco ( *) marca a agramaticalidade total da construção;
- a ausência de qualquer marca assinala a plena gramaticalidade da construção;
- entre estes dois pólos, do menos gramatical para o mais gramatical, usam-se os sinais: ?*, ?? e ?.
Gramatical/agramatical são termos metalinguísticos.
2. Erro
A noção de erro implica a existência prévia de prescrições que condenam certos usos.
O erro não é graduável: ou há erro, ou não há.
Erro, correto, incorreto não são termos metalinguísticos.
3. Exemplo
a) «Tu comestes aquilo que gostas.»
Esta frase está errada (tem dois erros), mas é gramatical, porque corresponde a uma construção frequente e linguisticamente atestável e também porque em morfologia e em sintaxe se explicam os factores que a propiciam.
Isto não quer dizer que o linguista aprove a vulgarização de construções como a exemplificada em a). Mas também não quer dizer que a condene. Quer dizer que o linguista, para o ser - isto é, para desenvolver um estudo científico da língua, com objecto de estudo e metodologia, por via da descrição rigorosa de dados, conducente à formulação de hipóteses descritivas de fenômenos linguísticos -, suspende o seu julgamento normativo.