Sociolinguística

Chamamos de sociolinguística, ou ainda sociologia da linguagem, o ramo da linguística responsável por estudar a relação entre a língua e a sociedade. Essa área nada mais é do que o estudo descritivo de todos os aspectos da sociedade e seus efeitos, inclusive envolvendo as normas culturais, contexto e expectativas, na linguagem e na maneira como é usada na sociedade.
Variedade
Quando falamos em variedade, estamos nos referindo às diferentes formas de manifestação da fala em uma língua. Por exemplo, quando uma pessoa mora em uma região do Brasil, vai falar de forma diferente do que outra que reside em região diferente. Essas formas podem envolver os traços que as condicionam, sendo sociais, regionais, históricos e culturais. Dentro desse termo, podemos estudar as suas classificações, que são dialeto, socioleto, idioleto e cronoleto.
O dialeto é uma forma particular característica de uma determinada localidade de usar a língua.
Socioleto é decorrente de experiências socioculturais que são comuns em determinado grupo de falantes que compartilham dessas experiências.
Idioleto, por sua vez, é o modo como cada indivíduo, independentemente do outro, se expressa por meio da fala.
Cronoleto, por fim, é a variedade que é determinada pela faixa etária do falante, podendo ser definida também como o modo próprio da geração de que se trata falar.
Variante
Quando estudamos sociolinguística, o termo variante é utilizado para designar o item que é alvo de mudança. Por exemplo, no caso de uma variação fonética, a variante é alofone, representando, dessa forma, as possíveis formas de realização. Esse termo, no entanto, quando usado na linguística geral, é usado como um sinônimo de dialeto, portanto é preciso muita atenção.
Variável
Por fim, a variável representa o traço, construção ou forma linguística cuja realização apresenta algumas variantes derivadas de observação pelo investigador.
Variações linguística
A língua não é regida por normas fixas e imutáveis, muito pelo contrário: assim como a sociedade é totalmente mutável, a língua pode transformar-se através do tempo por causa de vários fatores vindos da própria sociedade. Se compararmos textos antigos com atuais, perceberemos grandes mudanças no estilo e nas expressões.
Com certeza você já percebeu que, mesmo dentro de um mesmo país, existem várias maneiras de se falar uma língua, no nosso caso, a Língua Portuguesa. As pessoas se comunicam de formas diferentes e múltiplos fatores devem ser considerados, tais como a época, a região geográfica, a idade, o ambiente e o status sociocultural dos falantes. Nós costumamos adequar o nosso modo de falar ao ambiente e ao nosso interlocutor e não falamos da mesma forma que escrevemos.
As diferentes variações linguísticas
Variações diafásicas
São as variações que se dão em função do contexto comunicativo, isto é, a ocasião determina o modo como falaremos com o nosso interlocutor, podendo ser formal ou informal.
Variações históricas
Como já foi dito, a língua é dinâmica e sofre transformações ao longo do tempo. Um exemplo de variação histórica é a questão da ortografia: a palavra "farmácia" já foi escrita com "ph" (pharmácia). A palavra "você", que tem origem etimológica na expressão de tratamento de deferência "vossa mercê" e que se transformou sucessivamente em "vossemecê", "vosmecê", "vancê", até chegar na que utilizamos hoje que é, muitas vezes (principalmente na Internet), abreviado para "vc".
Variações diatópicas
Representam as variações que ocorrem pelas diferenças regionais. As variações regionais, denominados dialetos, são as variações referentes a diferentes regiões geográficas, de acordo com a cultura local. Um exemplo deste tipo de variação é a palavra "mandioca" que, em certos lugares, recebe outras denominações, como "macaxeira" e "aipim". Nesta modalidade também estão os sotaques, ligados às marcas orais da linguagem.
Variações diastráticas
São as variações ocorridas em razão da convivência entre os grupos sociais. As gírias, os jargões e o linguajar caipira são exemplos desta modalidade de variação linguística. É uma variação social e pertence a um grupo específico de pessoas. As gírias pertencem ao vocabulário específico de certos grupos, como os policiais, cantores de rap, surfistas, estudantes, jornalistas, entre outros.
Já os jargões estão relacionados com as áreas profissionais, caracterizando um linguajar técnico. Como exemplo, podemos citar os profissionais da Medicina, os advogados, os profissionais da Informática, dentre outros.
DIFERENÇAS ENTRE SOCIOLINGUÍSTICA INTERACIONAL E VARIACIONISTA
Pode-se dizer que a Linguística constitui-se de diversas ramificações. Uma delas é a Sociolinguística, cujas primeiras pesquisas ocorreram entre as décadas de 50 e 60. Seu objeto de estudo é a fala correlacionada à sociedade. Ou seja, a influência dos aspectos sociais nos diferentes modos de o indivíduo expressar sua fala.
A Sociolinguística, por sua vez, divide-se em Sociolinguística Interacional e Sociolinguística Variacionista. O estudo daquela concentra-se nas investigações sobre a linguagem na comunicação entre as pessoas e o contexto ao qual essa comunicação se desenvolve. Com isso, observa-se como o indivíduo reage às situações de interação face a face dentro de certo ambiente social.
Nesse campo de atuação, destaca-se o estudo do escritor e sociólogo canadense Erving Goffman, que introduziu o conceito de footing para explicar as interações entre falante, ouvinte e contexto. Footing "representa o alinhamento, a postura, a posição, a projeção do "eu" de um participante na sua relação com o outro, consigo próprio e com o discurso em construção." (GOFFMAN, 1998 In: RIBEIRO, Branca Telles & GARCEZ, PEDRO M.)
Ou seja, tal conceito tenta explicar os motivos que levam um falante a representar determinados papéis - a escolha de posturas corporais, gestos, palavras, frases, estruturas - para se expressar de acordo com o contexto no momento da fala. Contudo, levando em consideração as condições e predisposições do ouvinte para assimilar aquilo que está sendo falado. Por exemplo, um advogado fala e se comporta de certa forma em uma audiência judicial, perante o juiz, e de outra no happy hour com os amigos depois do trabalho. Da mesma forma, seus ouvintes poderão assumir outros papéis ou até trocá-los com o falante.
Já para a Sociolinguística Variacionista a principal preocupação é com a variação linguística, que ocorre segundo o meio social o qual o indivíduo está inserido. Um dos primeiros estudiosos a desenvolver um trabalho dentro dessa linha de pesquisa foi o americano William Labov. Ele "apresentou uma metodologia, tendo como objeto de estudo a fala, observando seu contexto e indicando ser possível sistematizar o aparente caos linguístico" (SALGADO, Solyany Soares, 2009, p. 96). Então, surge a Teoria da Variação Linguística cuja principal constatação é que a língua não é homogênia. Assim, existem diversas variedades em um mesmo idioma.
Compreende-se como variedade o uso da língua delimitado pelos grupos sociais. Portanto, dentro de uma mesma língua existem diferentes formas de realização da mesma, de acordo com os falantes e seus grupos sociais. Por exemplo, temos a variante padrão, prestigiada e utilizada pelas classes sociais mais afastadas. Em contrapartida, há a variedade dos estados menos favorecidos financeiramente, de fala menos preocupada com as regras gramaticais normativas.